São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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CLÓVIS ROSSI

"Catuco", sim, Severino

SÃO PAULO - Virou moda. Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gabar-se de ter sido formado pela vida e pelos percursos que fez pelo Brasil, não por alguma faculdade específica, é a vez de o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, orgulhar-se de ter frequentado a "universidade do povo".
Nada contra, em princípio. Já escrevi aqui mesmo, mais de uma vez e no auge do preconceito contra Lula, que o Brasil havia sido sempre governado por "doutores" e o resultado estava longe de ser brilhante.
Não seria um operário que faria estrago maior ainda. Poderia até corrigir alguns dos estragos herdados se não tivesse feito a opção preferencial pela cartilha dos "doutores". Mas uma coisa é não ver problemas no fato de o presidente ou o presidente da Câmara não terem formação. Outra coisa, completamente diferente e tonta, é orgulhar-se dessa deficiência.
Talvez pela imposição do politicamente correto (o outro nome para patrulhamento), muita gente silencia ou até acha graça nas batatadas ditas, dia sim, o outro também, por Lula, primeiro e, agora, acompanhado de Severino Cavalcanti.
Os disparates que ambos dizem são tratados como, digamos, sabedoria popular. Não são. São tolices mesmo. E, se se trata de dar exemplo, como manda a nova campanha em gestação nos laboratórios de marketing do governo, bem que eles próprios poderiam começar por limitar a incontinência verbal para não dar mau exemplo.
Ou alguém aí acha que é bom exemplo dizer que mandou calar sobre a corrupção no governo anterior. Ou contar, orgulhosamente, que protegeu "cachaceiro" infrator?
A deficiente formação escolar não é impedimento para governar o país ou para presidir a Câmara, mas também não pode virar qualidade.


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