São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

O antitucanês

BRASÍLIA - Onde tucanos, petistas e politicamente corretos (genuínos ou oportunistas) escrevem e falam "casamento civil entre pessoas do mesmo sexo", Severino Cavalcanti lê: "Esse negócio de homem com homem e mulher com mulher".
Onde eles escrevem que "o fisiologismo corrói os partidos e mina as instituições", Severino lê e explica didaticamente que deputados trocam de partido como de camisa por "20 mil, 30 mil".
Onde eles escrevem que um aumento de 67% nos salários dos deputados e senadores seria "inadmissível", "inaceitável", Severino vai direto ao ponto: "São uns idiotas".
Onde eles escrevem que a "autonomia do Banco Central" é fundamental, ele condena os juros altos e avisa que "o BC precisa é de cabresto".
Onde eles escrevem que estão na política para o bem da comunidade, do país e da humanidade, Severino assume que livra a cara de eleitor, até de "infrator" e de "cachaceiro".
A filha dele, deputada estadual Ana Cavalcanti (PP-PE), ainda cutucou o pai para tentar evitar o desastre. Se fossem tucanos, petistas e politicamente corretos (genuínos ou oportunistas), logo acatariam o sinal de cautela e mudariam de assunto. Severino foi até o fim na confissão.
Como Severino não tem papas na língua, estamos todos aprendendo muito sobre política, Congresso e congressistas. Mas o "baixo clero" também anda aprendendo boas lições. Uma delas é que não tem a maioria no Congresso. Outra é que opinião pública existe e se mexe.
Ao contrário do que Severino disse, os deputados não são "idiotas" por recuarem do aumento. Eles são é muito espertos. Tanto que sabem que o custo-benefício não compensa, porque sobrevivem à custa do voto -ou seja, da opinião pública.
A voz rouca das ruas não é tão empolada quanto a de tucanos, petistas e politicamente corretos, nem tão tosca e direta quanto a do baixo clero, mas funciona. O baixo clero se lixa para você. Mas você existe, vota e faz uma enorme diferença.


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