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CLÓVIS ROSSI
Horror sem fim
PARIS - Há limites que países civilizados devem respeitar até em guerras
formalmente declaradas. Templos religiosos, não-combatentes, crianças,
por exemplo.
O ataque norte-americano de ontem a uma mesquita na cidade iraquiana de Fallujah viola mais um
desses limites e acrescenta horror a
um conflito que parece desafiar, a cada dia, a capacidade de assombro do
ser humano.
Não adianta argumentar que os sunitas, majoritários na cidade, são o
núcleo da resistência à ocupação norte-americana, porque não querem
perder os benefícios de que gozavam
(em relação aos xiitas) no governo do
deposto Saddam Hussein.
Mesmo que esse argumento pudesse justificar algum massacre, perdeu
validade na medida em que a resistência, agora, é também dos xiitas,
perseguidos por Saddam e, portanto,
em tese simpáticos aos norte-americanos que os livraram do horror.
O ponto nem é esse, no entanto. O
ponto é que um país civilizado não
pode, sob pena de perder a altura
moral, descer ao nível de violência e
até de barbárie a que recorrem determinados regimes e/ou os setores extremistas de qualquer país.
Qual é a vantagem que a civilização pode oferecer, em relação à barbárie, se recorre a ela para prender e/ou matar seus inimigos?
Segundo o relato do jornal espanhol "El País", em sua edição on-line,
um helicóptero norte-americano lançou bombas de 227 kg contra uma
mesquita em que estavam entrincheirados combatentes sunitas. Quarenta morreram.
Teria sido, sempre segundo o relato,
represália pelo fato de cinco fuzileiros
navais terem ficado feridos por disparos dos sunitas. É o mais clássico
caso de olho por olho, dente por dente, que tende a conduzir a mais violência de um lado, que será respondida com mais violência pelo outro, em
um círculo infernal.
Nem o fato de a guerra ter começado de forma errada, unilateral, ilegal,
permitia supor que se violaria um limite após o outro, até chegar a esse
horror sem fim.
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