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ELIANE CANTANHÊDE
Pés no chão
BRASÍLIA - O MST invade uma propriedade produtiva, de uma poderosa multinacional de celulose que acaba de anunciar -no Planalto e ao
lado de Lula- investimentos de US$
1,25 bilhão no país. Eis uma questão
que parece dividir o governo ao meio.
Ninguém sabe o que fazer.
O lado "à direita" (incluindo ministros do próprio PT), mais realista e
pragmático, sabe que o efeito sobre o
ânimo dos investidores pode ser terrível. E eles não andam dando sopa.
O lado "à esquerda" (principalmente do PT) dá de ombros: trata-se
de um assunto para a Justiça. Afinal
de contas, o MST é legítimo e democracias comportam esse tranco.
Desdobrando-se a questão e suas
implicações, podemos chegar à seguinte percepção (e isso não significa
concordar com ela): a "direita" defendendo os tubarões, e a "esquerda"
tentando salvar os "peixes miúdos"
-ou seja, a gente que mete a filharada sob lonas pretas e sonha com uma
reforma agrária melhor no governo
do PT do que no governo do PSDB.
Talvez os dois lados estejam certos,
o que implica dizer que talvez ambos
estejam errados. Porque, até onde se
saiba, isso tudo não é uma guerra,
mas uma tática arriscada do MST e
que precisa de alguma resposta do
governo, não interessa se é do PT.
Provavelmente, só complica.
Pelo discurso oficial de antes e de
agora, lei é lei, cumpra-se. Mas não
há lei neste país, por mais injusto que
seja, por mais miseráveis que abrigue, permitindo a invasão de terras
produtivas. Ainda mais com direito a
destruir o que já estava plantado para improvisar algo novo no lugar.
A invasão das terras da Veracel,
portanto, é mais uma questão a pôr
em xeque a identidade, os limites, a
espinha dorsal do PT no poder. Se
acha que deixar pra lá vai ajudar a
vender uma imagem de bonzinho e
que os investidores vão entender, o
governo está errado.
Entre baixar o pau e simplesmente
lavar as mãos, há várias opções. O
importante é mostrar, lá fora e aqui
dentro, que a situação está sob controle. Se é que está.
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