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MARCIO AITH
A arte de iludir
SÃO PAULO - Equipes econômicas talentosas fazem a opinião pública
enxergar avanços em recuos e vitórias em derrotas. O ex-ministro Pedro Malan desenvolveu a técnica ao
nos convencer de que o déficit em conta corrente dos anos 90 era um
simples detalhe diante da montanha de investimentos externos que recebíamos.
Seu discípulo, Antonio Palocci, parece ter aperfeiçoado a arte ao anunciar, como uma vitória épica, o acordo com o FMI para levar adiante projetos-piloto de liberação de investimentos públicos em infra-estrutura.
Segundo o ministro, o acordo, que começará em 2005, permitirá uma brecha nas travas contábeis do FMI que
impedem o investimento do Estado.
Palocci, como Malan, quer que enxerguemos trigo onde há joio. O atual
acordo do Brasil com o FMI termina em dezembro de 2004. Se não for renovado, como prometeu enfaticamente o presidente Lula, o Brasil poderá livrar-se de todas as restrições do FMI que inibem o crescimento, e não apenas de algumas.
O que se avizinha na prática é um engodo, com duas nuances possíveis.
Pode ser que o governo queira trocar a flexibilidade total que teria em 2005 por uma liberdade vigiada, por um sistema por meio do qual levaria projetos ao Fundo e este os autorizaria ou não. Seria como um condenado que, prestes a ser libertado da cadeia, pedisse aos carcereiros que o deixassem passar dez dias por mês na cela onde ficou trancado por oito
anos.
Outra possibilidade, mais plausível, é a de que o governo queira renovar o
acordo com o FMI e não nos tenha contado ainda. Segundo funcionários do Fundo, essa vontade foi expressa à instituição por Palocci e pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Ambos querem uma proteção do
FMI contra flutuações de mercado.
As gestões de ambos distanciam ainda mais a administração Lula de
seu programa formal de governo e elevam o fosso entre o que o presidente diz e o que faz.
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