BRASÍLIA - A emenda da reeleição para os presidentes da Câmara e do Senado tem provocado um festival de declarações desencontradas.
Alguém perdeu a vergonha e passou a mentir em público. Pelo menos no que se refere à opinião de Lula sobre se a reeleição de João Paulo Cunha (Câmara) e de José Sarney (Senado) é boa ou ruim.
Aparece um microfone em sua frente e João Paulo declara o seguinte: "O presidente comentou comigo que apóia tanto a minha reeleição como a do presidente Sarney".
Não muito longe dali, o adversário de José Sarney, senador Renan Calheiros, chama João Paulo de mentiroso: "O ministro Aldo Rebelo disse que [...] o presidente se recusou a apoiar a tese [da reeleição de João Paulo e de Sarney]".
Ontem, o próprio Lula falou sobre a emenda Sarney-João Paulo: "Já chegam os problemas que tenho, não sou nem sim nem não. É assunto das bancadas e do Congresso. O governo não vai se intrometer".
A fala de Lula deixa o presidente da Câmara em situação delicada. Também contém uma imprecisão -ou inverdade. Renan Calheiros vive citando um acordo entre ele e o governo para ser o próximo presidente do Senado. Se acordo há -até porque não houve desmentido-, é correto inferir que o governo está se intrometendo há muito tempo nesse assunto. Bem diferente do que afirma o presidente da República.
Tudo somado, Lula, João Paulo, Sarney e Renan têm apenas tapado o sol com a peneira ao defenderem suas posições. Tentam simplificar o debate na base do ser a favor ou contra. Podem acabar tostados.
No caso de Renan, é inócuo repetir que há um acordo. Só ajuda a construir um muro no qual ele próprio mais tarde será espremido, sem saída. João Paulo e Sarney, ao forçarem a barra, também contribuem para a esfacelar ainda mais a já esburacada base governista. Lula, por fim, fica no meio do tiroteio -perdido por falta de articulação no Congresso.


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