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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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VALDO CRUZ

Intrigas e convicções

BRASÍLIA - O governo Lula demonstra um apego surpreendente à política monetária restritiva. Mantém sua profissão de fé nessa política austera mesmo debaixo de um fogo cruzado cada vez mais intenso.
A pergunta que muita gente se faz é de onde vem tamanha convicção num caminho tão execrado no passado pelo PT. Uma política que está parando a economia do país.
Ouvindo petistas que participam ou convivem com a cúpula do governo, a posição é unânime: uma disparada da inflação seria o fim do governo Lula, acabaria com sua credibilidade logo no seu primeiro ano.
Exagero ou não, esse argumento é repetido à exaustão. A alta da inflação agravaria uma crise que eles estavam assumindo. Aí, antes da posse, o lema adotado internamente foi "vamos governar a crise para que a crise não nos governe".
Segundo a cúpula do governo, é preciso ter sangue-frio neste início de mandato. Fazer todo o mal necessário agora, de uma vez, quando o capital político de Lula é alto o suficiente para resistir às pressões.
O presidente e sua equipe direta avaliam, porém, que o clima poderia estar melhor. Bastaria que alguns ministros, principalmente os da área social, estivessem operando com mais agilidade e competência.
Na lista estão gente como José Graziano (Fome Zero), Olívio Dutra (Cidades), Anderson Adauto (Transportes) e Carlos Lessa (BNDES). O último é visto como um grande erro.
Esse tipo de reclamação não é novidade, mas esquentou nos últimos dias, principalmente no Ministério da Fazenda, alvo das críticas contra a política dos juros altos.
A maioria se defende dizendo que a Fazenda deixou-os à míngua. A reação da equipe de Palocci é que eles podem ter pouco, mas nem isso estão conseguindo gastar.
O tiroteio interno ainda não é grave, mas já está gerando intrigas entre antigos companheiros e uma lista de cotados para uma degola ministerial. Por falar nela, há quem se lamente de uma coisa: vice não é demissível.



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