São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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O REMÉDIO DO MARKETING

O programa Farmácia Popular, lançado ontem pelo governo federal, cria uma rede de comercialização de medicamentos a preços abaixo dos de mercado. A idéia, num país com as carências do Brasil, vem revestida de uma sensibilidade social bastante atraente, especialmente para o marketing político do Planalto.
O problema é que programas desse tipo já existem, com a vantagem de que os fármacos são oferecidos gratuitamente. O atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) contempla a assistência farmacêutica básica, além de medicamentos de alto custo e aqueles ligados a programas específicos, como os de combate a diabetes, Aids e hipertensão. Novos esforços deveriam ser feitos para aperfeiçoar esse mecanismo universal e não para desrespeitá-lo e criar uma rede estatal de farmácias.
No ano passado, o Ministério da Saúde gastou cerca de R$ 174 milhões em apoio aos municípios para assistência farmacêutica básica. Segundo informa o governo, o Farmácia Popular conta neste ano com um orçamento de R$ 330 milhões, recursos que poderiam estar sendo canalizados para melhorar o atendimento na rede pública de saúde, onde iria ao encontro dos mais necessitados. Como concebido, o programa irá gerar custos de transporte, instalação e manutenção, e provavelmente atrairá uma demanda concorrente de classe média -o que não é um mal em si, mas um desvio de foco.
A explicação para a irracionalidade parece simples: o Farmácia Popular terá visibilidade -e justamente quando se inaugura um estratégico período eleitoral. Não deixa de ser sintomático que São Paulo vá receber dez dessas unidades na primeira fase do programa, contra cinco que serão instaladas em Salvador, uma em Goiânia e uma no Rio de Janeiro.
O projeto nasceu como mais um desses "efeitos especiais" populistas criados pela publicidade eleitoral para rechear a campanha do candidato Luiz Inácio Lula da Silva de conteúdo social. E não passa disso.


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