São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Torneio Rio-São Paulo

RIO DE JANEIRO - Um velho filme, que nem ficou na história do cinema por sua banalidade, dirigido por George P. Seitz, com Walter Pidgeon em início de carreira e Rita Johnson, conta a história de uma rebelião de presos numa daquelas penitenciárias bem superiores em segurança em relação às nossas.
O motivo da revolta foi a prisão de um promotor que, por acaso, havia feito a acusação de vários presos que decidiram matá-lo, criando condições para um racha na comunidade carcerária, que terminaria mais ou menos como na recente chacina de nossa doméstica Benfica, embora com número menor de mortos.
O presidente da República na época era Franklin D. Roosevelt, que até hoje é considerado um dos maiores estadistas do século 20, um democrata liberal, atento ao mesmo tempo à política mundial e à ordem interna do país que governava, combatendo a depressão provocada pela queda da Bolsa em 1929.
Nenhuma comparação com o presidente Lula ou com a governadora Rosinha Matheus. Temos um dos piores e mais ineficientes sistemas carcerários do mundo e, com o crime organizado como instituição, mas pulverizado em facções rivais, nem a União nem os Estados estão capacitados, técnica e financeiramente, para resolver o problema da violência, do qual os presídios, conforme ensinou Nelson Hungria, são a universidade do crime.
No último domingo, Janio de Freitas comentou a fuga, pela porta da frente, de 147 detentos do 27º DP em São Paulo. O alojamento tinha capacidade para 30 presos, continha 190. Aparentemente, todos pertenciam à mesma facção, a que desejava apenas fugir. Daí que a guerra se transferiu da prisão para a sociedade em geral, todos nós.
Nada mais ridículo, na mídia nacional, do que o torneio Rio-São Paulo, deslocado do Maracanã e do Morumbi para as respectivas secretarias de Segurança.


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