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CLÓVIS ROSSI
Copa, voto e bem-estar
SÃO PAULO - Um ou outro tucano
festejou, ainda que discretamente,
a eliminação da seleção brasileira
da Copa. Não por falta desse "patrioteirismo" compulsório que assola a pátria a cada quatro anos.
O receio era o de que o presidente
Lula pregasse no peito de Dilma
Rousseff e faixa de hexacampeão e
beliscasse uns votinhos a mais.
Receio sem fundamento histórico. Uma única vez, desde que eleições presidenciais e Copa coincidem no mesmo ano, houve a conjunção vitória da seleção/vitória do
candidato do governo.
Foi em 1994. Quatro anos depois,
o Brasil perdeu, mas o governo de
turno (Fernando Henrique Cardoso) ganhou. Em 2002, deu-se o inverso: o Brasil ganhou, mas o candidato do governo (José Serra) perdeu. Por fim, em 2006, nova inversão: o Brasil perde, mas o governo
(o próprio Lula) ganha.
Contrariando o histórico no Brasil, recente estudo norte-americano
mostra que, nas eleições para presidente, governador e senador, entre
1964 e 2008, o candidato governista
ganhou, no respectivo condado,
entre 1,05 e 1,47 ponto percentual
adicional sempre que a equipe local de futebol americano vencia o
torneio.
Mas, atenção, esse, digamos, benefício se dava sempre que a vitória
ocorria duas semanas antes da votação, pouco mais ou menos.
No Brasil, a Copa sempre foi uns
três meses -e não duas semanas-
antes da votação.
A explicação de Neil Malhotra,
professor-assistente de economia
política na Universidade Stanford,
um dos responsáveis pela pesquisa: "Eventos com os quais o governo não tem nada a ver, mas que
atingem a sensação de bem-estar
do votante, podem afetar as decisões que ele toma na eleição".
A questão, pois, não é exatamente ganhar ou perder no esporte
(qualquer esporte), mas estar de
bem com a vida. Aí, sim, vale para
os EUA, vale para o Brasil.
crossi@uol.com.br
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