São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2010

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CLÓVIS ROSSI

Copa, voto e bem-estar

SÃO PAULO - Um ou outro tucano festejou, ainda que discretamente, a eliminação da seleção brasileira da Copa. Não por falta desse "patrioteirismo" compulsório que assola a pátria a cada quatro anos.
O receio era o de que o presidente Lula pregasse no peito de Dilma Rousseff e faixa de hexacampeão e beliscasse uns votinhos a mais.
Receio sem fundamento histórico. Uma única vez, desde que eleições presidenciais e Copa coincidem no mesmo ano, houve a conjunção vitória da seleção/vitória do candidato do governo.
Foi em 1994. Quatro anos depois, o Brasil perdeu, mas o governo de turno (Fernando Henrique Cardoso) ganhou. Em 2002, deu-se o inverso: o Brasil ganhou, mas o candidato do governo (José Serra) perdeu. Por fim, em 2006, nova inversão: o Brasil perde, mas o governo (o próprio Lula) ganha.
Contrariando o histórico no Brasil, recente estudo norte-americano mostra que, nas eleições para presidente, governador e senador, entre 1964 e 2008, o candidato governista ganhou, no respectivo condado, entre 1,05 e 1,47 ponto percentual adicional sempre que a equipe local de futebol americano vencia o torneio.
Mas, atenção, esse, digamos, benefício se dava sempre que a vitória ocorria duas semanas antes da votação, pouco mais ou menos.
No Brasil, a Copa sempre foi uns três meses -e não duas semanas- antes da votação.
A explicação de Neil Malhotra, professor-assistente de economia política na Universidade Stanford, um dos responsáveis pela pesquisa: "Eventos com os quais o governo não tem nada a ver, mas que atingem a sensação de bem-estar do votante, podem afetar as decisões que ele toma na eleição".
A questão, pois, não é exatamente ganhar ou perder no esporte (qualquer esporte), mas estar de bem com a vida. Aí, sim, vale para os EUA, vale para o Brasil.

crossi@uol.com.br


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