São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A ordem é resistir

BRASÍLIA - Contas, apartamentos, doleiros, sonegação fiscal, todo esse amontoado de suspeitas que recaiu sobre Henrique Meirelles, do BC, e/ou Cássio Casseb, do BB.
A primeira conclusão é que o PT está provando do seu próprio veneno denuncista. Antes, o PT acusava, enquanto o governo de plantão estrebuchava atribuindo a culpa a "interesses políticos". Agora, os adversários do PT acusam, enquanto o governo Lula atribuiu tudo ao "ano eleitoral".
Há apenas uma diferença: no governo FHC, o réu (ou vítima) caía, todos perdiam alguns degraus da confiança pública e ia-se tocando em frente. No governo Lula, a ordem é resistir. Ninguém vai para a rua, a não ser Waldomiro Diniz -que foi, porque mantê-lo já seria demais.
A lista de quedas tucanas foi longa. Misturando-se alhos com bugalhos, o embaixador Júlio César Santos, Eduardo Jorge, Mendonça de Barros, André Lara Resende, Elcio Álvares. Uns foram afastados, outros não suportaram a pressão.
Sem entrar no mérito de quem é ou não culpado do quê, a lista de Lula é a dos que ficam, como José Dirceu (chefe direto de Waldomiro), Meirel- les, Casseb e Henrique Pizzolato, diretor de Marketing do BB, acusado de dar um jeitinho para ajudar a financiar a nova sede do PT.
O atual governo tinha de demitir Meirelles e Casseb ou o PT deveria pedir desculpas para Eduardo Jorge e Mendonça de Barros. Nenhuma denúncia foi pior do que a outra. E ninguém é melhor do que ninguém.
Pode estar ocorrendo uma espécie de ajuste entre o que é improbidade, ilegalidade, e o que é feio, mas não suficiente para demitir. E um ajuste entre o denuncismo que convinha ao PT e o que não convém ao governo do PT. O parâmetro de moralidade que o PT criou antes era alto, mais do que seu governo sustenta agora.
Por isso se sonha com a "lei da mordaça" e só agora se cria um conselho para "fiscalizar" jornalistas. As duas iniciativas têm o óbvio objetivo de esconder as denúncias -que fizeram a festa do PT na oposição e geram pânico no PT no governo.


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