São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Festa de arromba

BRASÍLIA - O governo George W. Bush comemora o primeiro ano do 11 de setembro, nesta semana, com a perspectiva imediata de uma invasão do Iraque. Uma festa inesquecível para a humanidade.
Os EUA, o mundo e a própria família Bush estão divididos, mas isso não é nada diante do ímpeto dominador de Bush, o presidente errado, na hora errada, da maior potência política, econômica e militar do planeta.
Bush saiu da defesa e partiu para o ataque, que pode levar o mundo para uma instabilidade aterrorizante. O Iraque não é exatamente o acuado Kosovo nem o miserável e absurdo Afeganistão. Assim como Saddam Hussein não é o napoleônico Slobodan Milosevic nem o maluco Osama bin Laden. O Iraque é um país rico, ideológico, sob reais suspeitas de ter armas biológicas. E Saddam é um radical capaz de tudo, até de usá-las.
Ainda bem que o Congresso dos EUA reluta em dar autorização para a guerra que Bush doentiamente quer e que França, Rússia e China (do Conselho de Segurança da ONU) deixaram clara a sua discordância. E ainda bem que George Bush, o pai, acha que o filho anda extrapolando.
O que surpreende são as "relações carnais" entre Reino Unido e Estados Unidos. Quando a Argentina de Menem adotou um lema tão promíscuo e politicamente repugnante, a gente até entendeu. No caso do Reino Unido de Tony Blair, é inaceitável.
Chegamos todos ao primeiro ano do 11 de setembro e às vésperas da eleição presidencial brasileira sob a ameaça de um mundo não só economicamente injusto como politicamente caótico. Vamos ver, agora, dois testes fundamentais: 1) se a ONU ainda serve para alguma coisa ou se não passa de apêndice dos EUA; 2) se os candidatos à Presidência do Brasil vão descobrir, em algum momento, que, mais importante do que os ataques entre um e outro, é o ataque inglês e norte-americano -que já começou- ao Oriente Médio.
Já passou da hora de a crise internacional entrar na agenda nacional. Antes que, entre mortos e feridos, não se salve ninguém.


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