São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Há alguma coisa no ar

RIO DE JANEIRO - Se você está sentado num avião, indo de algum lugar para outro, não leia esta crônica. Ela está sendo escrita por um sujeito solidamente fincado numa cadeira, diante de um notebook simples, mas honesto, que não me dá a temperatura lá fora, a altitude, a umidade relativa do ar e a distância que falta percorrer até chegar à terra firme.
Justamente por isso, pela solidez efêmera de minha circunstância, lembro que a situação das empresas que exploram o nosso espaço continua problemática. No mês passado, publiquei aqui mesmo um texto sobre o assunto, e o meu amigo Marcos Vinicius Vilaça, que muito viaja pelo Brasil e pelo mundo, ficou apavorado, com ímpetos de pedir o boné e de dar o fora do avião, não o fazendo porque, primeiro, é homem corajoso, segundo, o avião estava a 10 mil metros de altura.
A verdade é que as notícias que surgem no setor não tranquilizam a gente. Déficits escabrosos, atrasos no pagamento de funcionários e de fornecedores, brigas internas na cúpula e desânimo no baixo clero das companhias -tudo isso causa inquietação a quem é obrigado a se utilizar daquilo que a turma entendida chama de "aeronave".
Na semana passada, num mesmo dia, três dessas aeronaves tiveram problemas -numa delas morreram mais de 20 pessoas. Sabemos que o transporte aéreo é o mais seguro de todos, mas o estado confuso da contabilidade das nossas empresas deixa sempre uma suspeita quanto à qualidade da manutenção dos vôos. Nos Estados Unidos, o governo sempre ajuda, como na crise provocada pelos atentados de 11 de setembro.
Um parafuso solto pode causar um desastre, um abastecimento irregular obriga a um pouso de emergência. Há um funcionário que tira um grampo do trem de aterrissagem na hora da decolagem. Mostra ao piloto que tirou o grampo, preso a uma fita colorida. Se o cara tem uma fita sobressalente no bolso, pode criar uma baita confusão.


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