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VINICIUS TORRES FREIRE
Tanto horror e iniquidade
SÃO PAULO - Por que ouvimos falar tão pouco sobre índices de miséria e
tanto sobre inflação, risco-país, "inércia da medida do núcleo de inflação
pelo método das médias aparadas" e
horrores similares?
Um pesquisador do Ipea (instituto
de pesquisa econômica do governo
federal), Ronaldo Garcia, publicou
em agosto um estudo combativo e inteligente sobre a necessidade de medir bem a iniquidade social.
Basta ter olhos, ouvidos e nariz para saber do inferno social do Brasil.
Mas, a fim de que os indicadores da
injustiça tenham tanta visibilidade
política como os números do mercado, é preciso divulgá-los regularmente, ter uma medida objetiva dos escândalos sociais e martelar tais números na opinião pública.
Em seu trabalho, Garcia esboça
dois indicadores sociais gerais: o Índice de Iniquidade Social (Iniq) e o
Patamar Mínimo de Existência Digna (Pmed). O Pmed combina medidas do número de domicílios adequados (casa de material duradouro
com água limpa, esgoto, luz e eletrodomésticos básicos), renda familiar
per capita (mais que 1,5 salário mínimo por pessoa), escolaridade (crianças na escola, adultos com ao menos
o ensino médio) e cobertura previdenciária -enfim, o básico da civilização. Conclusão: 94,5% dos brasileiros vivem abaixo do patamar de
existência digna.
O índice precisa ser aperfeiçoado,
assim como indicadores hoje meio
precários que Garcia tira da obscuridade. Exemplo: a fatia dos salários
na renda nacional caiu de 45% do
PIB em 1993 (início de FHC) para
38% em 2001, arrocho maior que o
de 1950-1975. Desde 1993, os juros da
dívida pública somaram um PIB médio do período, brutal transferência
de renda para bancos, investidores
estrangeiros e famílias ricas, cujas
aplicações financeiras estão quase
todas na dívida do governo.
Que tal o Estado parar de gastar
em publicidade, viagem midiática,
prédio suntuoso, entre outras bobagens, e dar mais dinheiro para o pessoal do Ipea e IBGE pesquisar?
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