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São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Tanto horror e iniquidade

SÃO PAULO - Por que ouvimos falar tão pouco sobre índices de miséria e tanto sobre inflação, risco-país, "inércia da medida do núcleo de inflação pelo método das médias aparadas" e horrores similares?
Um pesquisador do Ipea (instituto de pesquisa econômica do governo federal), Ronaldo Garcia, publicou em agosto um estudo combativo e inteligente sobre a necessidade de medir bem a iniquidade social.
Basta ter olhos, ouvidos e nariz para saber do inferno social do Brasil. Mas, a fim de que os indicadores da injustiça tenham tanta visibilidade política como os números do mercado, é preciso divulgá-los regularmente, ter uma medida objetiva dos escândalos sociais e martelar tais números na opinião pública.
Em seu trabalho, Garcia esboça dois indicadores sociais gerais: o Índice de Iniquidade Social (Iniq) e o Patamar Mínimo de Existência Digna (Pmed). O Pmed combina medidas do número de domicílios adequados (casa de material duradouro com água limpa, esgoto, luz e eletrodomésticos básicos), renda familiar per capita (mais que 1,5 salário mínimo por pessoa), escolaridade (crianças na escola, adultos com ao menos o ensino médio) e cobertura previdenciária -enfim, o básico da civilização. Conclusão: 94,5% dos brasileiros vivem abaixo do patamar de existência digna.
O índice precisa ser aperfeiçoado, assim como indicadores hoje meio precários que Garcia tira da obscuridade. Exemplo: a fatia dos salários na renda nacional caiu de 45% do PIB em 1993 (início de FHC) para 38% em 2001, arrocho maior que o de 1950-1975. Desde 1993, os juros da dívida pública somaram um PIB médio do período, brutal transferência de renda para bancos, investidores estrangeiros e famílias ricas, cujas aplicações financeiras estão quase todas na dívida do governo.
Que tal o Estado parar de gastar em publicidade, viagem midiática, prédio suntuoso, entre outras bobagens, e dar mais dinheiro para o pessoal do Ipea e IBGE pesquisar?


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