São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Cores, amores e categorias

SÃO PAULO - É incompleta a informação do secretário de Imprensa da Presidência, Ricardo Kotscho, segundo quem o projeto do Conselho Federal de Jornalismo é uma "reivindicação desta categoria profissional" (a dos jornalistas), conforme a nota que Kotscho emitiu para rebater texto do jornal "The New York Times".
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) também representa os jornalistas, mas é contra o projeto. E a ABI tem mais história que a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), que lançou a idéia. Não é demérito da Fenaj, mas fato da vida.
Tanto é assim que, quando precisou, o PT (e demais forças de oposição ao governo Fernando Collor) recorreu à ABI para liderar o movimento pelo impeachment.
Vê-se, pois, que o projeto do CFJ não é "da categoria", mas de parte dela apenas.
Aliás, seria curioso saber por que o governo "comprou" esse projeto, de apenas parte de uma categoria, quando, pouco antes, se opôs ferozmente a um aumento maior do salário mínimo, este, sim, proposto por TODO o movimento sindical.
Está igualmente imprecisa a avaliação de Luís Nassif de que a onda verde-e-amarela nas praias italianas neste verão seria decorrência do fato de que o Brasil é "o país mais amado do mundo".
A onda verde-e-amarela na Europa vem de alguns meses, mas está determinada por um modismo de cores que se revezam ciclicamente nas lojas, de acordo com a criatividade (ou falta dela) dos desenhistas.
Enquete pessoal, feita nos cinco meses que passei na Europa neste ano, mostra que a maior parte dos que usam verde-e-amarelo nem sabe que são as cores do Brasil.
Claro que há (sempre houve) carinho pelo país tropical, mesmo desconhecendo-o, porque, afinal, nunca fez mal a ninguém (a não ser a seus próprios filhos e aos paraguaios no século retrasado).
A onda atual tem muito mais a ver com cor do que com amor ao Brasil. É bom do mesmo jeito, mas não convém perder a perspectiva.


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