São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Puro marketing
FERNANDO BARROS
Chegando mais perto, Churchill, Hitler (com seu marqueteiro Goebbels) e Kennedy tinham planos eficientemente elaborados. Aqui embaixo, Vargas, Perón e JK foram indiscutíveis "cases" de sucesso. No Brasil, a cada eleição, esse ofício mais se notabiliza. Estamos, indiscutivelmente, entre os melhores do mundo nessa atividade. Há um aspecto, contudo, no marketing político brazuca extremamente controverso, pra dizer o mínimo: a superexposição dos profissionais. Ao autopromover-se em excesso, acabam às vezes sendo mais célebres do que seus clientes. Essa é uma deformação, pois, afinal, quem ganha a eleição é o candidato, somente ele. Pode parecer antimarketing (nosso) a afirmação, mas é a pura verdade. Não há milagre de marqueteiro capaz de evitar o fracasso de um candidato de qualidades pouco competitivas. Essa história de candidato ser produto é uma falácia. Candidato não é como xampu nem desodorante, que você muda o cheiro, a cor e a embalagem. Um candidato tem história, passado, ideologia. Aliás, quando se tenta fazê-lo parecido com o que não é, ele logo é classificado de "Denorex", por acaso um xampu anticaspa cuja frase e conceito de campanha eram "parece, mas não é". Alimentar essa história de sermos "bruxos", "magos" não passa -desculpem a sinceridade- de esperteza de quem quer se vender (mais) caro. Tudo bem, o glamour é traço da nossa profissão, mas não vamos exagerar. Nossa atribuição, tal como no futebol, é treinar o time e colocá-lo pra jogar e ganhar. Técnico não entra em campo pra bater faltas ou pênaltis. Fico perplexo quando vejo alguns colegas revelarem na mídia segredos e intimidades de campanhas das quais participaram ou estão participando, jactando-se sempre dos êxitos. Essas atitudes têm contribuído para estigmatizar nosso trabalho. Proponho estabelecermos um código de ética para nossa profissão semelhante ao dos médicos. Eles não saem por aí revelando a doença e o tratamento recomendado a seus clientes, salvo em situações especiais, autorizados pela família. Chega de nos autoproclamarmos milagreiros, únicos responsáveis pelas vitórias, reservando a nossos clientes/candidatos apenas a culpa pela derrota, quando elas acontecem. Não sou hipócrita; uma estratégia malfeita pode derrubar um bom pretendente a votos, com certeza. Mas, se o cara é fraco, ou o povo não o quer naquele momento, não há campanha bonita que o salve. Por isso prego a discrição como regra. O jeito ruidoso de ser do marqueteiro brasileiro está contribuindo para estabelecer que falsificamos pessoas e situações. Infelizmente, hoje, quando se diz que alguém é "puro marketing", significa acusar esse alguém de embusteiro. Precisamos cuidar melhor da nossa própria imagem. Enquanto é tempo. Fernando Barros, 51, publicitário, é presidente da agência Propeg. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Marconi Perillo: Projeto desestrutura saneamento Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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