São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Grito dos Excluídos
"O Sete de Setembro realmente não é só desfile militar, como aprendemos nas escolas, resquício dos tempos sombrios da ditadura militar. O Brasil de hoje, com mais cor e mais festas, ainda sofre com a exclusão, a concentração de renda e a desigualdade social. Como fez Eliane Cantanhêde ontem no artigo "Ame-o ou deixe-o", questiono o ufanismo de um país que assiste ao "espetáculo do crescimento" e, ao mesmo tempo, convive com ações intolerantes como os assassinatos de moradores de rua, isso sem falar no desemprego, mazela estrutural da sociedade. O Grito dos Excluídos, realizado em todo país, mobilizou mais de um milhão de pessoas que afirmam um patriotismo diferente, no qual a soberania, a participação e a independência sejam reais, e não mais um slogan de marketing."
Telma Bessa, doutoranda em história pela PUC-SP, integrante do movimento Grito dos Excluídos (São Paulo, SP)

Energia
"O editorial "Contra o relógio" (Opinião, 7/9) colocou moderadamente o problema da necessidade de investimentos imediatos na produção de energia elétrica. Até agora, o governo Lula perdeu tempo e nada de prático foi feito. Aliás, com o que sobrou do Orçamento para investimentos em 2005 (cerca de R$ 11 bilhões), fica implícito que, com dinheiro público, nada será feito. O governo anterior, de FHC, caracterizou-se pelo "eu não sabia" -eu não sabia que era preciso investir em energia elétrica, eu não sabia que o real estava com o preço errado no primeiro governo, eu não sabia que o neoliberalismo era uma nova forma de dominação consentida... Lula não pode alegar o mesmo desconhecimento. O povo já não aceita mais essas incompetências. Ao reinaugurar a Cobrasma, na semana passada, Lula ouviu um só apelo dos empresários: "Não deixe ocorrer um novo apagão. A gente se vira com o resto"."
Antonio do Vale (São Paulo, SP)

"Olga"
"Como são chatos os críticos de cinema! Assisti "Olga" e fiquei impressionado com a qualidade do filme nos aspectos político e histórico e como "filme" mesmo. Explico: a) político porque retrata a inserção da ex-União Soviética no cenário internacional como potência que não media esforços para atingir seus objetivos, usando e abusando da espionagem; b) histórico porque nos mostra um passado não tão distante, no qual países europeus se omitiram e até aderiram, como a Espanha, aos horrores do nazismo. Mostra também um passado do Brasil que os mais jovens não conhecem -o Estado Novo de Getúlio Vargas, no qual, por meio do chefe de polícia política, Filinto Müller, todos os meios, mesmos os mais violentos, justificavam os fins; c) como filme, basta ver as bilheterias. Quando foi que um filme nacional bateu lançamentos hollywoodianos estrelados por Tom Cruise e Will Smith ("Colateral" e "Eu, Robô') por duas semanas seguidas? Ainda bem que o sucesso não depende da crítica. Parabéns aos produtores, aos diretores e ao escritor Fernando Morais."
José Francisco (Belo Horizonte, MG)

Coletivo
"Cidadania também é dever, não só direito. Assim é revelador o artigo do professor José Arthur Giannotti ("Uma outra sociabilidade", Mais!, 5/9). A legitimação universal de interesses pessoais sob o simulacro da fineza educada é mais uma das armadilhas da nossa sociedade, tal como o racismo cordial. Costumamos invocar a "cidadania" quando os outros violam nossos direitos, mas nunca quando somos nós que os transgredimos. A belíssima explanação do professor confirma minha convicção de que apenas nossa preocupação com o coletivo pode fortalecer nosso sonho de uma sociedade mais justa, livre e sem zonas difusas de interpretação que justifiquem pequenas violências, como jogar papel no chão, ou grandes, como assassinar moradores de rua."
Marco Antonio Xavier, professor de literatura do Curso Anglo Vestibulares (São Paulo, SP)

Metrô literário
"Achei louvável a iniciativa do metrô de São Paulo de instalar uma biblioteca em uma de suas estações. Mas vejo que há igualdade com outros projetos sociais: sempre começam em lugares centrais. Por que não foi feita numa estação periférica? Será que as pessoas que utilizam a estação Paraíso têm menos acesso a livros do que aquelas que utilizam estações da periferia? Por que não começaram por Itaquera ou por uma estação onde haja terminal para ônibus que vêm de lugares onde a maioria da população nunca entrou numa biblioteca? São Paulo tem uma disparidade social muito grande, e ela não vai diminuir se essas iniciativas, que são ótimas, não começarem por locais menos favorecidos."
Judite Margutti (São Paulo, SP)

Bandeirantes
"Gostaria de fazer alguns comentários em relação aos textos "Bandeirantes tinham origem judaica" e "Quatrocentão oculta origem de cristão novo" (Cotidiano, 5/9). Em relação ao que diz a historiadora Anita Novinsky, penso que seja irrelevante ser de origem judaica ou não para a formação de São Paulo. Ao historiador Marcelo Bogaciovas eu pergunto: quem lhe disse que os "quatrocentões" eram nobres? Alguns com certeza eram, mas qual a relevância de serem ou não nobres para a formação de São Paulo? Enfim, a história de São Paulo é um embuste, ou uma fantasia para ambos. Que exemplar generalização. Daqui a 400 anos, certamente haverá historiadores dizendo que o paulistano era formado por uma "raça" de criminosos, frios e insensíveis, que seqüestravam pessoas, matavam em cruzamento, assavam criancinhas, assassinavam moradores de rua, desviavam dinheiro público e traficavam drogas. Pobres dos paulistas. Estão lhe roubando a história, o seu passado."
Augusto Francisco Mota Ferraz de Arruda, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (São Paulo, SP)

Seres vivos
"A forma obtusa como enxerga os fatos faz com que a religião seja o grande mal do mundo. Alardear que um embrião é um ser vivo atrapalha ainda mais quem realmente está vivo e precisa de cura. Foi assim que, em nome de alguma religião, se execrou o uso de preservativos, ajudando a proliferação de doenças. Foi assim que, em nome de alguma religião, se lutou contra métodos contraceptivos -e a miséria espalhou-se. É assim que, em nome de alguma religião, se combate o aborto de fetos acéfalos, alongando o sofrimento do "ser" que vai viver por apenas alguns minutos. Cristo morreu sofrendo devido à intolerância de religiosos. Hoje muitos continuam sofrendo e morrendo pela mesma intolerância."
Mauro Cezar Rodrigues (São Paulo, SP)


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