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VINICIUS TORRES FREIRE
Política de guerra
SÃO PAULO - É irrealista acreditar que alguma solução para a desordem
política e social nas cercanias do
Oriente Médio venha a estar desvinculada do interesse dos EUA, de um
conflito em que façam valer seus objetivos e da implementação de um
quadro legal e político que enquadre
de modo mais ou menos negociado
os envolvidos na refrega.
Desde que os EUA entraram para
valer na política mundial, na guerra
de 1914-18, depois de seus exércitos
vieram instituições que a longo prazo
se mostraram mais ou menos imperiais -Liga das Nações, ONU, Banco
Mundial, FMI e Organização Mundial do Comércio.
Trata-se de instituições imperiais,
mas não só. Reconstruíram e puseram ordem em regiões historicamente conflagradas (Europa e Ásia "japonesa"), decerto de modo a integrar o
império da economia dos EUA, Europa e Japão. Crioulos, produtores de
matéria-prima e de manufaturas baratas e potenciais campos de manobra soviéticos ficaram em miséria e
sob ditaduras do cordão sanitário
anticomunista.
O lema "bombas e manteiga" (arrasar o Taleban, Laden e dar sopão
aos afegãos) pode ser apenas ouro na
pílula imperial, além de lembrar um
slogan nazista ("canhões e manteiga"). Mas há indícios, tênues, de que
talvez EUA e aliados deixem de considerar a região só como um gueto sobre poços de petróleo, policiado por
Israel e frotas americanas.
Os EUA tentarão amaciar ditaduras que apóiam ou vão adotar apenas o "plano Paquistão" (dão uns
trocados e engatilham um canhão na
cabeça do ditador)? Os americanos
criaram caso com Israel pela primeira vez em 50 anos. Adotaram Putin
como sócio menor -o russo viu a
chance de "pacificar" sua fronteira
islâmica e de aderir à OMC. Parece
haver rearranjo geopolítico à vista.
A guerra islâmica já dura mais de
20 anos. Teve sua pré-história na Palestina, engrossou na revolução do
Irã. A miséria e a opressão que a fermentou são tamanhas que levaram o
conflito aos EUA. Apenas bombas
contra favelas afegãs, iraquianas e
palestinas não vão resolvê-lo.
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