São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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VINICIUS TORRES FREIRE

Política de guerra

SÃO PAULO - É irrealista acreditar que alguma solução para a desordem política e social nas cercanias do Oriente Médio venha a estar desvinculada do interesse dos EUA, de um conflito em que façam valer seus objetivos e da implementação de um quadro legal e político que enquadre de modo mais ou menos negociado os envolvidos na refrega.
Desde que os EUA entraram para valer na política mundial, na guerra de 1914-18, depois de seus exércitos vieram instituições que a longo prazo se mostraram mais ou menos imperiais -Liga das Nações, ONU, Banco Mundial, FMI e Organização Mundial do Comércio.
Trata-se de instituições imperiais, mas não só. Reconstruíram e puseram ordem em regiões historicamente conflagradas (Europa e Ásia "japonesa"), decerto de modo a integrar o império da economia dos EUA, Europa e Japão. Crioulos, produtores de matéria-prima e de manufaturas baratas e potenciais campos de manobra soviéticos ficaram em miséria e sob ditaduras do cordão sanitário anticomunista.
O lema "bombas e manteiga" (arrasar o Taleban, Laden e dar sopão aos afegãos) pode ser apenas ouro na pílula imperial, além de lembrar um slogan nazista ("canhões e manteiga"). Mas há indícios, tênues, de que talvez EUA e aliados deixem de considerar a região só como um gueto sobre poços de petróleo, policiado por Israel e frotas americanas.
Os EUA tentarão amaciar ditaduras que apóiam ou vão adotar apenas o "plano Paquistão" (dão uns trocados e engatilham um canhão na cabeça do ditador)? Os americanos criaram caso com Israel pela primeira vez em 50 anos. Adotaram Putin como sócio menor -o russo viu a chance de "pacificar" sua fronteira islâmica e de aderir à OMC. Parece haver rearranjo geopolítico à vista.
A guerra islâmica já dura mais de 20 anos. Teve sua pré-história na Palestina, engrossou na revolução do Irã. A miséria e a opressão que a fermentou são tamanhas que levaram o conflito aos EUA. Apenas bombas contra favelas afegãs, iraquianas e palestinas não vão resolvê-lo.


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