São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

O gato e o rato

RIO DE JANEIRO - "O gato comeu o rato. Quem é o culpado?". A pergunta pode definir, metaforicamente, a operação militar desencadeada pelos Estados Unidos e seus aliados contra objetivos terroristas no Afeganistão.
É obrigação do gato comer o rato. Principalmente quando o gato existe e é mantido para defender uma casa atacada pelo rato. Até aí nenhuma novidade. O terrorismo funciona como um rato nojento que precisa ser exterminado. A luta contra o rato já envolveu armadilhas e ratoeiras diversas, que até agora não funcionaram.
Apela-se então para o gato. Confia-se nele porque, geneticamente, na escala animal, é o adversário histórico e biológico do rato.
Tudo bem. Apenas um adendo. Quem invocou a rivalidade do gato com o rato para invadir a Polônia, em 1939, foi um taleban chamado Adolf Hitler. Era o gato que velava pelos valores da casa nazista, emporcalhada pelo rato.
Quem é o culpado na guerra que começou ontem?
O ataque do rato matou 6.000 pessoas em pouco mais de uma hora. O gato estava dormindo, em paz, gordo e refestelado diante da tigela cheia de leite. O rato exerceu a solércia natural que se espera de um rato.
Infelizmente, não estamos assistindo a um desenho animado. Não podemos rir diante do que está acontecendo. Mas como em qualquer guerra, confronto de duas vontades, tanto o gato como o rato fizeram e continuam fazendo o que deles se espera.
O século 21 está começando com um retorno à pré-história. Mudaram os acidentes do gato e do rato, ambos detêm equipamentos modernos de acordo com suas possibilidades. Mas a luta é antiga. Gato e rato têm suas razões. Do ponto de vista de cada um, estão cumprindo um destino imutável. Dois bens contra dois males.
De quem é a culpa, afinal? Do gato por ser gato ou do rato por ser rato?


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