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CARLOS HEITOR CONY
O gato e o rato
RIO DE JANEIRO - "O gato comeu o rato. Quem é o culpado?". A pergunta
pode definir, metaforicamente, a
operação militar desencadeada pelos
Estados Unidos e seus aliados contra
objetivos terroristas no Afeganistão.
É obrigação do gato comer o rato.
Principalmente quando o gato existe
e é mantido para defender uma casa
atacada pelo rato. Até aí nenhuma
novidade. O terrorismo funciona como um rato nojento que precisa ser
exterminado. A luta contra o rato já
envolveu armadilhas e ratoeiras diversas, que até agora não funcionaram.
Apela-se então para o gato. Confia-se nele porque, geneticamente, na escala animal, é o adversário histórico
e biológico do rato.
Tudo bem. Apenas um adendo.
Quem invocou a rivalidade do gato
com o rato para invadir a Polônia,
em 1939, foi um taleban chamado
Adolf Hitler. Era o gato que velava
pelos valores da casa nazista, emporcalhada pelo rato.
Quem é o culpado na guerra que
começou ontem?
O ataque do rato matou 6.000 pessoas em pouco mais de uma hora. O
gato estava dormindo, em paz, gordo
e refestelado diante da tigela cheia de
leite. O rato exerceu a solércia natural que se espera de um rato.
Infelizmente, não estamos assistindo a um desenho animado. Não podemos rir diante do que está acontecendo. Mas como em qualquer guerra, confronto de duas vontades, tanto
o gato como o rato fizeram e continuam fazendo o que deles se espera.
O século 21 está começando com
um retorno à pré-história. Mudaram
os acidentes do gato e do rato, ambos
detêm equipamentos modernos de
acordo com suas possibilidades. Mas
a luta é antiga. Gato e rato têm suas
razões. Do ponto de vista de cada um,
estão cumprindo um destino imutável. Dois bens contra dois males.
De quem é a culpa, afinal? Do gato
por ser gato ou do rato por ser rato?
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