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MARCELO BERABA
Compañero Lula
RIO DE JANEIRO - A eleição de Lula despertou fortes emoções e esperanças por todos os cantos. Estive recentemente na Colômbia com jornalistas de vários países da América Latina e todos estavam em festa, como se
o novo presidente fosse resolver não
só os problemas do Brasil como os de
todos os vizinhos mal amparados.
O acúmulo de desilusões e frustrações na vida política e a crise econômica comum a quase todos os países
latino-americanos explicam esse sentimento, que guarda um tanto de admiração e um tanto de perplexidade.
Ouvi de muitos que o Brasil é um
país de sorte, e não apenas pelo futebol. Acham que Fernando Henrique
Cardoso mal ou bem levou o barco
durante o nevoeiro e entrega-o para
um líder popular de um partido bem
estruturado. Acham que, ancorado
em alianças com o centro, poderá fazer a travessia que outros presidentes
de origem de esquerda ou populistas
não conseguiram.
Ontem, a Confederação de Trabalhadores da Venezuela, que quer a
saída do presidente Hugo Chávez,
amigo de Lula, fez publicar no Brasil
um anúncio em forma de carta dirigida ao "estimado companheiro" recém-eleito, "uma nova esperança para os mais humildes e, em particular,
para os trabalhadores de todo o Brasil, do nosso continente e do mundo".
Com as exceções do México e do
Chile, todos os outros vivem problemas seriíssimos, a começar pelos
grandes vizinhos amazônicos, a Colômbia e a Venezuela. Dois países
que tinham tudo para estar em situações confortáveis, com economias
competitivas e fortes, e que penam
com problemas político-institucionais que os debilitam a cada dia
mais. Assim como a Argentina.
Lula, ainda contaminado pela euforia que tomou conta das ruas, tem
razão quando diz que não pode errar. Se realizar um governo eficaz,
poderá distinguir-se de seus vizinhos
presidentes, que, com o tempo, perderam respeito e legitimidade.
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