São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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MARCELO BERABA

Compañero Lula

RIO DE JANEIRO - A eleição de Lula despertou fortes emoções e esperanças por todos os cantos. Estive recentemente na Colômbia com jornalistas de vários países da América Latina e todos estavam em festa, como se o novo presidente fosse resolver não só os problemas do Brasil como os de todos os vizinhos mal amparados.
O acúmulo de desilusões e frustrações na vida política e a crise econômica comum a quase todos os países latino-americanos explicam esse sentimento, que guarda um tanto de admiração e um tanto de perplexidade.
Ouvi de muitos que o Brasil é um país de sorte, e não apenas pelo futebol. Acham que Fernando Henrique Cardoso mal ou bem levou o barco durante o nevoeiro e entrega-o para um líder popular de um partido bem estruturado. Acham que, ancorado em alianças com o centro, poderá fazer a travessia que outros presidentes de origem de esquerda ou populistas não conseguiram.
Ontem, a Confederação de Trabalhadores da Venezuela, que quer a saída do presidente Hugo Chávez, amigo de Lula, fez publicar no Brasil um anúncio em forma de carta dirigida ao "estimado companheiro" recém-eleito, "uma nova esperança para os mais humildes e, em particular, para os trabalhadores de todo o Brasil, do nosso continente e do mundo".
Com as exceções do México e do Chile, todos os outros vivem problemas seriíssimos, a começar pelos grandes vizinhos amazônicos, a Colômbia e a Venezuela. Dois países que tinham tudo para estar em situações confortáveis, com economias competitivas e fortes, e que penam com problemas político-institucionais que os debilitam a cada dia mais. Assim como a Argentina.
Lula, ainda contaminado pela euforia que tomou conta das ruas, tem razão quando diz que não pode errar. Se realizar um governo eficaz, poderá distinguir-se de seus vizinhos presidentes, que, com o tempo, perderam respeito e legitimidade.


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