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Um galo na encruzilhada
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Mesmo não sendo
otimista, estava mais ou menos confiante na possibilidade do pentacampeonato mundial de futebol. Achava
que, apesar dos tropeços e confusões,
que sempre antecederam nossa participação na Copa do Mundo, na hora
H as coisas se arrumariam e traríamos
o caneco (não sei se ainda chamam a
copa de caneco, mas deixa pra lá).
Com a contratação de Zico para a
coordenação técnica da seleção já começo a temer e a tremer. Nada contra
o craque em si. Zico tem escalação garantida em qualquer seleção dos dez
maiores jogadores de todos os tempos.
Digo isso na minha condição de
não-flamenguista, sempre vi o galinho
jogando contra o meu time nos campeonatos locais.
Agora, que ele não é homem de sorte
-como é Zagallo-, parece também
uma verdade transcendental. Disputou três copas, na Argentina, na Espanha e no México, não se sagrou campeão em nenhuma delas. Perdeu um
pênalti naquela dolorosa decisão
-ele que foi o maior cobrador de faltas do futebol brasileiro. Sua passagem pela Secretaria de Esportes no governo Collor foi amargurada, não por
culpa dele, mas do destino.
Daí meu arrepio na espinha quando
soube que ele fará dupla com Zagallo.
Sou supersticioso no trivial variado da
vida e, nos grandes momentos, sou supersticiosíssimo. Acho que não se deve
brincar com essas coisas. Dispenso-me
de citar exemplos, mas acho que cada
um tem uma crônica própria a respeito.
Acresce que a onda contra Zagallo
também é antiga e estúpida. Começou
em 70, quando João Saldanha saiu
atirando contra ele e levou parte da
imprensa comprometida com a "causa" a achar que Zagallo seria uma espécie de testa-de-ferro do general Médici, que além de presidente da República queria escalar a seleção.
Torcerei duplamente em junho: para
que tudo dê certo na França e para
que eu esteja (mais uma vez) errado.
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