São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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ENCHENTES E SUJEIRAS EM SP

As enchentes em São Paulo revelaram que a cidade se transformou numa armadilha. Poucos paulistanos, no entanto, são capazes de perceber o nexo profundo entre a tragédia urbana e a corrupção que grassa de longa data no município. A própria complexidade da metrópole dificulta perceber esse gênero de relação.
Pois agora, com a inclusão da varrição e da coleta de lixo no escândalo das Administrações Regionais (ARs), tal vinculação se torna evidente. O que antes era óbvio em abstrato -as verbas são desviadas da manutenção urbana- ganha sentido concreto: o lixo não recolhido, em grande parte devido ao desleixo da população, entope bueiros e córregos.
O caso mais recente apontado por testemunhas, segundo reportagem publicada ontem nesta Folha, estaria ocorrendo na AR-Penha. Ela é controlada pelo vereador Vicente Viscome (do PPB do prefeito Celso Pitta), já implicado em outras denúncias. A empresa contratada destinaria 20% de sua receita a propinas, para que a fiscalização afrouxasse o controle das metas contratuais, como área varrida e peso do lixo recolhido.
A coleta do lixo paulistano oferece campo farto para desvios e falcatruas. Comprovadas as revelações feitas à polícia, as propinas poderiam alcançar R$ 1,8 milhão por ano na AR. Surpresa seria se o filão estivesse em exploração só na Penha.
Há muitos motivos para desconfiança na evolução dos gastos da prefeitura com lixo, nas administrações Paulo Maluf e Celso Pitta. Foram dez alterações nos contratos, entre 1995 e 1998 -sintomaticamente, todas para ampliar o serviço. A despesa mais que dobrou, alcançando R$ 1,2 bilhão. Por outro lado, levantamento do Datafolha em sete ruas da cidade mostrou, há pouco mais de um ano, que pelo menos 62% do serviço contratado não era realizado.
Com ou sem enchente, qualquer um pode ver, São Paulo está mais suja. Em todos e lamentáveis sentidos.


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