|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENCHENTES E SUJEIRAS EM SP
As enchentes em São Paulo revelaram que a cidade se transformou numa armadilha. Poucos paulistanos,
no entanto, são capazes de perceber
o nexo profundo entre a tragédia urbana e a corrupção que grassa de
longa data no município. A própria
complexidade da metrópole dificulta
perceber esse gênero de relação.
Pois agora, com a inclusão da varrição e da coleta de lixo no escândalo
das Administrações Regionais
(ARs), tal vinculação se torna evidente. O que antes era óbvio em abstrato
-as verbas são desviadas da manutenção urbana- ganha sentido concreto: o lixo não recolhido, em grande parte devido ao desleixo da população, entope bueiros e córregos.
O caso mais recente apontado por
testemunhas, segundo reportagem
publicada ontem nesta Folha, estaria
ocorrendo na AR-Penha. Ela é controlada pelo vereador Vicente Viscome (do PPB do prefeito Celso Pitta),
já implicado em outras denúncias. A
empresa contratada destinaria 20%
de sua receita a propinas, para que a
fiscalização afrouxasse o controle
das metas contratuais, como área
varrida e peso do lixo recolhido.
A coleta do lixo paulistano oferece
campo farto para desvios e falcatruas. Comprovadas as revelações
feitas à polícia, as propinas poderiam alcançar R$ 1,8 milhão por ano
na AR. Surpresa seria se o filão estivesse em exploração só na Penha.
Há muitos motivos para desconfiança na evolução dos gastos da prefeitura com lixo, nas administrações
Paulo Maluf e Celso Pitta. Foram dez
alterações nos contratos, entre 1995
e 1998 -sintomaticamente, todas
para ampliar o serviço. A despesa
mais que dobrou, alcançando R$ 1,2
bilhão. Por outro lado, levantamento
do Datafolha em sete ruas da cidade
mostrou, há pouco mais de um ano,
que pelo menos 62% do serviço contratado não era realizado.
Com ou sem enchente, qualquer
um pode ver, São Paulo está mais suja. Em todos e lamentáveis sentidos.
Texto Anterior: Editorial: MOEDA POLITIZADA Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A cada qual, a sua culpa Índice
|