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CLÓVIS ROSSI
De convicções e palácios
BRASÍLIA - Néstor Kirchner, quase certamente futuro presidente da Argentina, usa com constância uma
frase de efeito: "Não vou deixar as
convicções à porta da Casa de Governo, como muitos fizeram no passado". Dita em Buenos Aires, a frase
tem como alvo óbvio e direto o ex-presidente Carlos Saúl Menem, que
se elegeu prometendo um "salariazo" e entregou uma revolução liberal
mal concebida, que terminou em
uma tragédia sem paralelo.
Repetida ontem em Brasília, a frase até poderia soar aos ouvidos dos
mal pensados como provocação a
Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, foi
Lula quem disse que, na oposição,
podia fazer "bravatas", mas, no governo, não dá.
Ou, posto no molde Kirchner, deixou as bravatas à porta da Casa de
Governo.
Claro que é ruim fazer bravatas, na
oposição ou no governo. Mas seria
pior se Lula tivesse deixado, de fato,
as convicções do lado de fora do Palácio do Planalto.
Há muita gente no PT e entre os
eleitores não-petistas que votaram
em Lula em 2002 que acha, sim, que
o candidato não trocou apenas bravatas por uma suposta ou real responsabilidade, mas mudou de convicções (o que seria legítimo, se combinado antes com o público).
Refiro-me não apenas aos notórios
do partido, mas a uma fatia de militantes, muitos dos quais com anos e
anos de PT, e/ou a eleitores anônimos, que mandam e-mails carregados de indizível angústia.
No Palácio do Planalto, no entanto, jura-se que as convicções continuam no coração do presidente, dentro e não à porta do Palácio. Apenas
hibernam, à espera da superação do
susto provocado pelo terrorismo financeiro do segundo semestre de
2002. Dizem até que a hibernação estaria perto de terminar.
Se for assim e se Kirchner ganhar
para cumprir sua promessa, os dois
juntos causarão sensação, sem emitir
juízo de valor para a palavra, o que
cabe ao leitor/eleitor.
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