UOL




São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

De convicções e palácios

BRASÍLIA - Néstor Kirchner, quase certamente futuro presidente da Argentina, usa com constância uma frase de efeito: "Não vou deixar as convicções à porta da Casa de Governo, como muitos fizeram no passado". Dita em Buenos Aires, a frase tem como alvo óbvio e direto o ex-presidente Carlos Saúl Menem, que se elegeu prometendo um "salariazo" e entregou uma revolução liberal mal concebida, que terminou em uma tragédia sem paralelo.
Repetida ontem em Brasília, a frase até poderia soar aos ouvidos dos mal pensados como provocação a Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, foi Lula quem disse que, na oposição, podia fazer "bravatas", mas, no governo, não dá.
Ou, posto no molde Kirchner, deixou as bravatas à porta da Casa de Governo.
Claro que é ruim fazer bravatas, na oposição ou no governo. Mas seria pior se Lula tivesse deixado, de fato, as convicções do lado de fora do Palácio do Planalto.
Há muita gente no PT e entre os eleitores não-petistas que votaram em Lula em 2002 que acha, sim, que o candidato não trocou apenas bravatas por uma suposta ou real responsabilidade, mas mudou de convicções (o que seria legítimo, se combinado antes com o público).
Refiro-me não apenas aos notórios do partido, mas a uma fatia de militantes, muitos dos quais com anos e anos de PT, e/ou a eleitores anônimos, que mandam e-mails carregados de indizível angústia.
No Palácio do Planalto, no entanto, jura-se que as convicções continuam no coração do presidente, dentro e não à porta do Palácio. Apenas hibernam, à espera da superação do susto provocado pelo terrorismo financeiro do segundo semestre de 2002. Dizem até que a hibernação estaria perto de terminar.
Se for assim e se Kirchner ganhar para cumprir sua promessa, os dois juntos causarão sensação, sem emitir juízo de valor para a palavra, o que cabe ao leitor/eleitor.


Texto Anterior: Editoriais: ÊXODO UNIVERSITÁRIO

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Que coisa, hein?
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.