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ELIANE CANTANHÊDE
Diretas-Já. E daí?
BRASÍLIA - A morte de Dante de
Oliveira, aos 54 anos, de uma doença súbita, deixa melancolia e reflexão. Seu nome está associado para
sempre às Diretas-Já, que mobilizaram a repulsa e a esperança de todo um país. Caíram no Congresso,
mas enterraram a ditadura e geraram a transição possível, com a eleição de Tancredo Neves. E daí? O
que veio depois?
Dante chegou ao Congresso em
1982. Altíssimo, magrelo, falava pelos cotovelos, vivia cheio de idéias e
pensava grande: estava no primeiro
mandato ao virar pai da emenda
histórica.
Os iguais se atraem, e Dante se
aliou a Arthur Virgílio (AM), Márcio Lacerda (MT), Márcio Santilli,
João Hermann (SP) e outros, todos
vindo da esquerda, cheios de gás, de
utopia, acreditando que a política
move o mundo. E sonhando (então,
puro sonho) com Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
Eram os "capuchinhos", porque
barbudos, e tinham tudo a ver com
o momento. O Brasil estava renascendo, e a emenda das Diretas parecia o impossível se tornando possível. Sem guerra, com alegria.
Os "meninos" cresceram. Alguns
desistiram, como Santilli, que se
tornou indigenista. Outros ganharam e perderam governos, viraram
senadores, continuam deputados.
Mas cada um foi para um lado. Hermann está com Lula, Virgílio é o estridente líder tucano no Senado,
Dante retornou às origens, governando Mato Grosso.
Sua trajetória é como a de tantos
outros: o talentoso, inteligente e sonhador que se vê às voltas com o poder, a administração, as pressões, as
demandas sociais imensas e as verbas mínimas. Dura a vida.
Com mensalões, sanguessugas e
todo o resto, é bom pensar no jovem
Dante de Oliveira e perguntar onde,
raios, se meteram os novos "capuchinhos". Foram expulsos pelos severinos? Ou pelo desalento?
elianec@uol.com.br
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