São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Diretas-Já. E daí?

BRASÍLIA - A morte de Dante de Oliveira, aos 54 anos, de uma doença súbita, deixa melancolia e reflexão. Seu nome está associado para sempre às Diretas-Já, que mobilizaram a repulsa e a esperança de todo um país. Caíram no Congresso, mas enterraram a ditadura e geraram a transição possível, com a eleição de Tancredo Neves. E daí? O que veio depois?
Dante chegou ao Congresso em 1982. Altíssimo, magrelo, falava pelos cotovelos, vivia cheio de idéias e pensava grande: estava no primeiro mandato ao virar pai da emenda histórica.
Os iguais se atraem, e Dante se aliou a Arthur Virgílio (AM), Márcio Lacerda (MT), Márcio Santilli, João Hermann (SP) e outros, todos vindo da esquerda, cheios de gás, de utopia, acreditando que a política move o mundo. E sonhando (então, puro sonho) com Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
Eram os "capuchinhos", porque barbudos, e tinham tudo a ver com o momento. O Brasil estava renascendo, e a emenda das Diretas parecia o impossível se tornando possível. Sem guerra, com alegria.
Os "meninos" cresceram. Alguns desistiram, como Santilli, que se tornou indigenista. Outros ganharam e perderam governos, viraram senadores, continuam deputados. Mas cada um foi para um lado. Hermann está com Lula, Virgílio é o estridente líder tucano no Senado, Dante retornou às origens, governando Mato Grosso.
Sua trajetória é como a de tantos outros: o talentoso, inteligente e sonhador que se vê às voltas com o poder, a administração, as pressões, as demandas sociais imensas e as verbas mínimas. Dura a vida.
Com mensalões, sanguessugas e todo o resto, é bom pensar no jovem Dante de Oliveira e perguntar onde, raios, se meteram os novos "capuchinhos". Foram expulsos pelos severinos? Ou pelo desalento?


elianec@uol.com.br

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