São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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A ARGENTINA SANGRA

O governo norte-americano promoveu uma mudança em sua política de auxílio financeiro para países emergentes. A gestão George W. Bush rendeu-se à mesma lógica que tanto criticara em Bill Clinton. Com a ajuda ao Uruguai e, principalmente, com o empréstimo ao Brasil, restou apenas um senão, trágico, para que a mudança fosse completa: a Argentina. O sofrimento do país platino continua, por ora, a ser exibido por Washington como um emblema não se sabe de quê.
A passagem do secretário do Tesouro, Paul O'Neill, pela Argentina despertou uma onda de protestos populares contra a sua presença. Mas não deixou a não ser uma vaga esperança de que, quem sabe em algumas semanas, vá haver uma chance de o FMI entabular conversas mais promissoras com Buenos Aires. Isso em meio a repisadas mensagens para que a Argentina caminhe para "uma idéia bastante clara acerca da prática do Estado de Direito".
Não custa relembrar que, ao longo da década de 1990, a Argentina foi aclamada pela nata da tecnocracia e da política internacional como o "aluno exemplar", que fez a lição de casa ultraliberal como nenhum outro fizera. Como prova do reconhecimento internacional que imperava, em outubro de 1998 o então presidente Carlos Menem teve a honra de entrar ao lado de Bill Clinton na cerimônia de abertura da reunião entre o FMI e o Banco Mundial, em Washington. Era a primeira vez em muito tempo que as honrarias do evento não eram reservadas apenas ao chefe de Estado norte-americano.
Agora, a Argentina passa, sem estágio intermediário, a ser tratada como pária por aqueles mesmos organismos e governos que a apoiavam.
Deixar a Argentina definhar nunca fez sentido. Mas agora, quando o dogmatismo do início da gestão Bush foi atropelado pelos fatos, manter a mesma "dureza" seria apenas esquizofrênico, não implicasse a extensão gratuita do sofrimento por que já passa toda uma população.



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