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DEMAGOGIA À SOLTA
Numa das passagens mais importantes da história da filosofia ocidental, Aristóteles escreveu:
"Aquilo que é se diz de várias maneiras" ("Metafísica" 1026b).
A Câmara Municipal de São Paulo
aprovou ontem, em votação final,
um projeto que, se sancionado pela
prefeita Marta Suplicy (PT), obrigará
todos os cinemas, teatros, casas de
espetáculos, estádios e ginásios da
cidade a conceder descontos de 50%
para menores de 21 anos.
Uma outra maneira de descrever a
proposta votada pelos vereadores é
dizer que a Câmara determinou um
aumento nos preços dos ingressos
para maiores de 21 anos. É simplesmente impossível oferecer, a golpes
de caneta, um desconto tão pródigo
e tão amplo e esperar que as empresas absorvam os custos sem majorar
o valor das entradas. Quem acabará
arcando com o maior impacto da generosidade da vereança serão os
compradores de bilhetes inteiros.
Aqui, não há mágica possível. Ou a
empresa tem "gorduras" e vai ser capaz de suportar os novos ônus impostos pela municipalidade, ou vai
repassá-los para os ingressos. Como
o setor de entretenimento não vai tão
bem assim, aumentos parecem inevitáveis. Um eventual crescimento no
número de espectadores por conta
da meia-entrada dificilmente compensará a perda de receita.
Se a idéia por trás do projeto de José
Mentor (PT) é democratizar a cultura, a proposta é estulta. Ela beneficia
um grupo que, em boa medida, já
dispõe de renda para consumir bens
culturais. Democratizar implica dar
acesso a quem não tem, isto é, os
mais pobres. E há maneiras mais inteligentes e transparentes de fazê-lo,
como levar espetáculos gratuitos à
periferia. Políticas sérias e consistentes de incentivo à cultura podem e devem ser elaboradas. Elas evidentemente têm custos que precisam ser
explicitados de forma clara. Deixar
de fazê-lo é recair num outro tema
grego: a demagogia.
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