São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

UTI salva, mas não cura

SÃO PAULO - A julgar pelos jornais de ontem e pela reação do mercado, o acordo com o FMI resgata a pátria para todo o sempre e permite ao próximo presidente, seja quem for, governar à vontade.
Um pouco de perspectiva, pelo amor de Deus. Acordo com o FMI NUNCA é bom, por definição. Pode ser inevitável, pode ser urgente, pode ser necessário, pode ser a única solução, mas bom nunca é.
Nunca é porque corresponde a uma UTI. Só se entra nela quando o paciente não consegue sobreviver com as próprias forças.
UTIs salvam vidas, mas não curam pacientes. O que cura é a terapia adequada, capaz de eliminar as causas que levaram o cidadão ao risco de morte e à terapia intensiva.
Para ser bem sincero, eu fico até envergonhado de estar escrevendo tão tremendas obviedades, mas o raciocínio fast food, que tomou conta do planeta desde que os mercados se tornaram a fonte de todo o pensamento, esconde o óbvio.
O Brasil só será curado quando, entre outras providências, puder depender menos de recursos externos, tese em que coincidem hoje todos os candidatos, ao menos na retórica.
É ótimo pegar a grana posta à disposição pelo FMI, até porque seu custo é menor do que o de mercado. Mas acreditar que a pátria está salva é acreditar em Papai Noel.
Não sou eu quem diz. São, por exemplo, Edmar Bacha e Pedro Malan, dois dos pais do Real: "Enquanto a questão do fluxo de caixa do Brasil em moeda conversível não for levada em consideração satisfatoriamente através de uma renegociação mais abrangente, a margem de manobra na política econômica será extremamente reduzida" (texto para "Redemocratizando o Brasil", livro de 88, em que os dois criticam a política do então ministro Delfim Netto, inclusive seus acordos com o Fundo).


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