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CLÓVIS ROSSI
UTI salva, mas não cura
SÃO PAULO - A julgar pelos jornais de ontem e pela reação do mercado, o
acordo com o FMI resgata a pátria
para todo o sempre e permite ao próximo presidente, seja quem for, governar à vontade.
Um pouco de perspectiva, pelo
amor de Deus. Acordo com o FMI
NUNCA é bom, por definição. Pode
ser inevitável, pode ser urgente, pode
ser necessário, pode ser a única solução, mas bom nunca é.
Nunca é porque corresponde a uma
UTI. Só se entra nela quando o paciente não consegue sobreviver com
as próprias forças.
UTIs salvam vidas, mas não curam
pacientes. O que cura é a terapia adequada, capaz de eliminar as causas
que levaram o cidadão ao risco de
morte e à terapia intensiva.
Para ser bem sincero, eu fico até envergonhado de estar escrevendo tão
tremendas obviedades, mas o raciocínio fast food, que tomou conta do
planeta desde que os mercados se tornaram a fonte de todo o pensamento,
esconde o óbvio.
O Brasil só será curado quando, entre outras providências, puder depender menos de recursos externos, tese
em que coincidem hoje todos os candidatos, ao menos na retórica.
É ótimo pegar a grana posta à disposição pelo FMI, até porque seu custo é menor do que o de mercado. Mas
acreditar que a pátria está salva é
acreditar em Papai Noel.
Não sou eu quem diz. São, por
exemplo, Edmar Bacha e Pedro Malan, dois dos pais do Real: "Enquanto
a questão do fluxo de caixa do Brasil
em moeda conversível não for levada
em consideração satisfatoriamente
através de uma renegociação mais
abrangente, a margem de manobra
na política econômica será extremamente reduzida" (texto para "Redemocratizando o Brasil", livro de 88,
em que os dois criticam a política do
então ministro Delfim Netto, inclusive seus acordos com o Fundo).
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