São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Presente de lua-de-mel

BRASÍLIA - A oposição passou anos a fio esculhambando o FMI, pai de todos os males, mãe da globalização.
O próprio FHC esperou o segundo mandato para recorrer ao Fundo. Pelo visto, acabou gostando. A diferença, agora, é que FHC e o seu governo estão aliviados com o novo acordo, mas não são os únicos.
Resguardadas as devidas proporções, as devidas cautelas eleitorais e os devidos pruridos pessoais, os candidatos e suas equipes econômicas estavam, no fundo, no fundo (atenção, é trocadilho mesmo!) quase tão aliviados quanto o próprio governo.
A bolada foi de US$ 30 bilhões, maior do que o previsto. E o mais importante é que o grosso, de US$ 24 bilhões, vai sair justamente no primeiro ano do próximo governo.
Ou seja: os candidatos de oposição podem até reclamar, mas quem é que não quer subir a rampa do Planalto com o mercado mais calminho, o dólar num patamar mais razoável e, principalmente, uma dinheirama dessas com juros bem mais camaradas do que os de qualquer banco?
Falemos mal do FMI. É chique, é politicamente correto e é razoável mesmo. Afinal, é ele o bicho-papão que, governo após governo, justifica arrochos fiscais dolorosos que, em última instância, representam menos dinheiro, menos investimento, menos emprego. A sociedade paga.
Mas é a velha história: ruim com o FMI, pior sem ele. Tanto que a França, o Reino Unido, Portugal e uma lista imensa de países não se furtaram a ir buscar sua cota em algum momento de sua história. Por que o Brasil fugiria à regra? E por que fugiria exatamente quando o mundo está de pernas para o ar e a escassez de recursos afeta a todos e a cada um?
Malan, Armínio e cia. ficaram com o ônus de negociar e anunciar para a sociedade, que torce o nariz para esse tal de FMI. Lula, Ciro, Serra ou Garotinho vão ter o bônus de receber e usar a maior parte da grana.
Como disse Armínio à Folha, dá para salvar o primeiro ano do novo governo. Ou a "lua-de-mel" com o Congresso, o mercado e a sociedade.



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