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ELIANE CANTANHÊDE
Presente de lua-de-mel
BRASÍLIA - A oposição passou anos a fio esculhambando o FMI, pai de todos os males, mãe da globalização.
O próprio FHC esperou o segundo
mandato para recorrer ao Fundo. Pelo visto, acabou gostando. A diferença, agora, é que FHC e o seu governo
estão aliviados com o novo acordo,
mas não são os únicos.
Resguardadas as devidas proporções, as devidas cautelas eleitorais e
os devidos pruridos pessoais, os candidatos e suas equipes econômicas estavam, no fundo, no fundo (atenção,
é trocadilho mesmo!) quase tão aliviados quanto o próprio governo.
A bolada foi de US$ 30 bilhões,
maior do que o previsto. E o mais importante é que o grosso, de US$ 24 bilhões, vai sair justamente no primeiro ano do próximo governo.
Ou seja: os candidatos de oposição
podem até reclamar, mas quem é que
não quer subir a rampa do Planalto
com o mercado mais calminho, o dólar num patamar mais razoável e,
principalmente, uma dinheirama
dessas com juros bem mais camaradas do que os de qualquer banco?
Falemos mal do FMI. É chique, é
politicamente correto e é razoável
mesmo. Afinal, é ele o bicho-papão
que, governo após governo, justifica
arrochos fiscais dolorosos que, em última instância, representam menos
dinheiro, menos investimento, menos
emprego. A sociedade paga.
Mas é a velha história: ruim com o
FMI, pior sem ele. Tanto que a França, o Reino Unido, Portugal e uma
lista imensa de países não se furtaram a ir buscar sua cota em algum
momento de sua história. Por que o
Brasil fugiria à regra? E por que fugiria exatamente quando o mundo está de pernas para o ar e a escassez de
recursos afeta a todos e a cada um?
Malan, Armínio e cia. ficaram com
o ônus de negociar e anunciar para a
sociedade, que torce o nariz para esse
tal de FMI. Lula, Ciro, Serra ou Garotinho vão ter o bônus de receber e
usar a maior parte da grana.
Como disse Armínio à Folha, dá
para salvar o primeiro ano do novo
governo. Ou a "lua-de-mel" com o
Congresso, o mercado e a sociedade.
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