São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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CLAUDIA ANTUNES

A outra quadratura

RIO DE JANEIRO - Na coluna de anteontem, no alto desta página, Clóvis Rossi dizia que José Serra tentava descobrir a "quadratura do círculo" ao apresentar-se como o candidato do presidente Fernando Henrique, mas não do governo FHC.
Agora, depois do alívio proporcionado pelo acordo com o Fundo Monetário, talvez Serra possa assumir-se plenamente como governista. Porém não só ele como quem quer que venha a ser eleito terão de inventar a fórmula da quadratura de outro círculo, aquela que permitirá combinar a manutenção da política econômica atual, base do acordo, com o crescimento, a redução do desemprego e o aumento dos gastos públicos, que estão nos programas de todos os candidatos à Presidência da República.
Na nota sobre o acordo, o FMI, atento ao cenário eleitoral, acenou benevolamente com o seu apoio a "esforços para aumentar o nível de emprego e melhorar as condições de vida dos brasileiros". Mas o próprio Fundo não teria um caso concreto a apontar de país que tenha seguido obedientemente a "política econômica sadia", que exige do futuro governo, e tenha, ao mesmo tempo, avançado no bem-estar social que só o aumento da renda e do trabalho pode proporcionar.
Ninguém imagina que Fernando Henrique tenha desejado encerrar seu governo com um desemprego recorde e com restrições orçamentárias que afetam melancolicamente símbolos nacionais como as Forças Armadas e a universidade. Ele deve, em algum momento, ter acreditado que seguia a linha justa, pela qual todo o país seria recompensado.
O que o Fundo e seus dirigentes pretendem, com um pacote considerado mais generoso do que jamais se imaginara, é que, como FHC, continuemos acreditando até sermos finalmente retribuídos em um futuro distante. Para o sistema financeiro internacional, mais do que salvar o Brasil, trata-se, como disse o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, de "salvar a si mesmo".


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