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CLAUDIA ANTUNES
A outra quadratura
RIO DE JANEIRO - Na coluna de anteontem, no alto desta página, Clóvis
Rossi dizia que José Serra tentava
descobrir a "quadratura do círculo"
ao apresentar-se como o candidato
do presidente Fernando Henrique,
mas não do governo FHC.
Agora, depois do alívio proporcionado pelo acordo com o Fundo Monetário, talvez Serra possa assumir-se
plenamente como governista. Porém
não só ele como quem quer que venha a ser eleito terão de inventar a fórmula da quadratura de outro círculo,
aquela que permitirá combinar a
manutenção da política econômica
atual, base do acordo, com o crescimento, a redução do desemprego e o
aumento dos gastos públicos, que estão nos programas de todos os candidatos à Presidência da República.
Na nota sobre o acordo, o FMI,
atento ao cenário eleitoral, acenou
benevolamente com o seu apoio a
"esforços para aumentar o nível de
emprego e melhorar as condições de
vida dos brasileiros". Mas o próprio
Fundo não teria um caso concreto a
apontar de país que tenha seguido
obedientemente a "política econômica sadia", que exige do futuro governo, e tenha, ao mesmo tempo, avançado no bem-estar social que só o aumento da renda e do trabalho pode
proporcionar.
Ninguém imagina que Fernando
Henrique tenha desejado encerrar
seu governo com um desemprego recorde e com restrições orçamentárias
que afetam melancolicamente símbolos nacionais como as Forças Armadas e a universidade. Ele deve, em
algum momento, ter acreditado que
seguia a linha justa, pela qual todo o
país seria recompensado.
O que o Fundo e seus dirigentes pretendem, com um pacote considerado
mais generoso do que jamais se imaginara, é que, como FHC, continuemos acreditando até sermos finalmente retribuídos em um futuro distante. Para o sistema financeiro internacional, mais do que salvar o
Brasil, trata-se, como disse o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, de "salvar a si mesmo".
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