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PLÍNIO FRAGA
Educação pela pedra
RIO DE JANEIRO - A vida é feita
de asperezas, sendo inútil negá-las,
contorná-las, envolvê-las em gaze,
escreveu Graciliano Ramos do cárcere. "Quem dormiu no chão deve
lembra-se disto, impor-se disciplina, sentar-se em cadeiras duras, escrever em tábuas estreitas. Escreverá talvez asperezas, mas é delas
que a vida é feita." Faz mais de 50
anos que "Memórias do Cárcere"
foi publicado. A nobreza do autor
consegue tirar lições daquilo que
originalmente é dor.
Mas os tempos são outros. O sistema penitenciário brasileiro entrou em colapso. É desumano. Fornecedor e aprimorador da mão-de-obra do PCC. Não por culpa só dos
presos. Os marginais organizam-se,
auxiliam-se, fortalecem-se, comungam princípios ou a falta deles. Porque é da essência do homem assim
proceder.
A socióloga Julita Lemgruber,
que já comandou o sistema penitenciário do Rio, recorreu em entrevista a uma frase do ex-ministro
da Justiça britânico Douglas Hurd
para explicar a situação: "Prisão é
uma maneira cara de tornar as pessoas piores". A privação da liberdade deve ser reservada aos criminosos violentos e perigosos, que se
constituem em ameaça concreta.
Lemgruber lembra que, dos 365
mil presos no país, apenas 10% trabalham. A Lei de Execuções Penais
diz que o preso condenado é obrigado ao trabalho e pode descontar um
dia de sua pena para cada três dias
trabalhados. Apesar de 70% dos
presos no país não terem completado o primeiro grau, apenas 17% estudam dentro das prisões.
Há campo mais fértil para um
sindicato assistencialista do crime?
A "educação pela pedra" é uma bela
imagem da lírica de João Cabral de
Melo Neto. Mas o sistema penitenciário brasileiro está a formar um
exército de marginais, que ameaça
não deixar pedra sobre pedra. E
ainda paga caro por eles.
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