CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Da formidável cacofonia que se produziu a respeito da mídia, na sequência do acidente com lady Di, surgiu muito mais calor do que luz.
Primeiro, porque houve uma tendência a desprezar as enormes diferenças entre cada veículo, que não se esgotam nas clássicas, entre mídia impressa e mídia eletrônica, por exemplo. Há, de jornal para jornal, matizes e comportamentos divergentes.
Basta verificar as manchetes desta Folha e de "O Estado de S.Paulo", no domingo: "2,5 bilhões dizem adeus à princesa" ("O Estado de S.Paulo") e "2 milhões seguem cortejo de Diana" (Folha).
A diferença de enfoque, na faixa dos bilhões de pessoas, é eloquente, embora fácil de explicar: a Folha usou o número dos que estavam, supostamente, nas ruas de Londres, ao passo que o concorrente preferiu o número suposto de telespectadores.
Da mesma maneira, houve o exagero de entender que os chamados "jornais de qualidade" estão se "tabloidizando". Não é bem assim. De modo geral, descontados erros que não configuram uma tendência, os jornais ditos sérios "importam" dos tablóides o que é notícia, fundamentalmente.
Não foram os tablóides que inventaram amantes para lady Di ou para o príncipe Charles. Eles (e ela) existem. Os "jornais de qualidade" usaram essa informação, que muita gente acha fofoca, não notícia.
É um critério. Se eu pudesse decidir, não daria a menor importância para esse tipo de notícia (ou fofoca). Nunca dei, aliás, e nem por isso morri de fome na profissão. Mas seria presunção abusiva achar que o meu critério é o único correto.
Tampouco acho que, porque o mercado demanda fofocas, todos devemos atender a sua fome por elas. Mas é ilusório supor que, se os jornais de qualidade não o fizerem, ninguém mais o fará. O mundo é algo mais complexo do que o branco e o preto a que muitos comentários trataram de reduzir o episódio.






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