São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Quase um 1974 em 2002

BRASÍLIA - Brasileiros com mais de 40 anos, 34% dos 115,3 milhões de eleitores, devem ter alguma lembrança de 1974. Guardadas as proporções, a eleição de domingo foi em parte semelhante à daquele ano.
A grande diferença é que o Brasil vivia sob um duro regime militar em 1974. Só dois partidos eram legais. A Arena, governista, e o MDB, a oposição consentida.
Abertas as urnas em 1974, a oposição fez 16 (72,7%) das 22 vagas em disputa para o Senado. Neste ano, os não-alinhados a FHC ficaram com 22 vagas de senadores (40,77%).
Na Câmara, a oposição em 1974 passou de 87 para 165 cadeiras. Um salto espetacular de 89,7%. Neste ano, os partidos que não apoiaram o governo federal devem sair de 167 para 226 deputados -ganho de 35,3%.
Como se observa, o aumento da bancada oposicionista hoje é menor do que o de 1974. Mas agora há mais partidos. Dezenas de deputados hospedados no PMDB e no PSDB -e até no PFL- gostariam de engrossar a "oposição quase governo".
Em 1974, a população deu um recado eloquente que surtiu efeito durante anos a fio. De forma às vezes mais rápida, às vezes mais lenta, a política do Brasil nunca mais parou de caminhar no rumo da democracia.
Esse é o principal recado a ser retirado da eleição de domingo. Um grupo emblemático de políticos foi varrido da vida pública. Maluf, Quércia, Brizola, Collor e outros. O eleitor mandou dizer que tem pressa.
Não se trata de uma onda exclusiva do PT, embora seja essa a sigla que mais compreenda -não importa se de forma marqueteira ou não- o sentimento do eleitorado.
Mas o eleitor é sábio. Não votou de forma unânime no PT nos Estados. Os eleitores gaúchos reprovaram parcialmente a vitrine mais importante do partido, o Rio Grande do Sul.
No dia 27 o eleitor votará novamente. O resultado, Lula ou Serra, determinará a velocidade da mudança. Pode ser mais 1974 ou mais 2002.



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