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FERNANDO RODRIGUES
Quase um 1974 em 2002
BRASÍLIA - Brasileiros com mais de 40 anos, 34% dos 115,3 milhões de
eleitores, devem ter alguma lembrança de 1974. Guardadas as proporções,
a eleição de domingo foi em parte semelhante à daquele ano.
A grande diferença é que o Brasil
vivia sob um duro regime militar em
1974. Só dois partidos eram legais. A
Arena, governista, e o MDB, a oposição consentida.
Abertas as urnas em 1974, a oposição fez 16 (72,7%) das 22 vagas em
disputa para o Senado. Neste ano, os
não-alinhados a FHC ficaram com
22 vagas de senadores (40,77%).
Na Câmara, a oposição em 1974
passou de 87 para 165 cadeiras. Um
salto espetacular de 89,7%. Neste
ano, os partidos que não apoiaram o
governo federal devem sair de 167 para 226 deputados -ganho de 35,3%.
Como se observa, o aumento da
bancada oposicionista hoje é menor
do que o de 1974. Mas agora há mais
partidos. Dezenas de deputados hospedados no PMDB e no PSDB -e até
no PFL- gostariam de engrossar a
"oposição quase governo".
Em 1974, a população deu um recado eloquente que surtiu efeito durante anos a fio. De forma às vezes mais
rápida, às vezes mais lenta, a política
do Brasil nunca mais parou de caminhar no rumo da democracia.
Esse é o principal recado a ser retirado da eleição de domingo. Um grupo emblemático de políticos foi varrido da vida pública. Maluf, Quércia,
Brizola, Collor e outros. O eleitor
mandou dizer que tem pressa.
Não se trata de uma onda exclusiva
do PT, embora seja essa a sigla que
mais compreenda -não importa se
de forma marqueteira ou não- o
sentimento do eleitorado.
Mas o eleitor é sábio. Não votou de
forma unânime no PT nos Estados.
Os eleitores gaúchos reprovaram parcialmente a vitrine mais importante
do partido, o Rio Grande do Sul.
No dia 27 o eleitor votará novamente. O resultado, Lula ou Serra,
determinará a velocidade da mudança. Pode ser mais 1974 ou mais
2002.
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