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O RISCO SCHWARZENEGGER
Foi a vitória do espetáculo sobre a política. Com extrema desenvoltura, Arnold Schwarzenegger
saiu da campanha publicitária de
lançamento de "O Exterminador do
Futuro 3", na qual se empenhava meses atrás, para ingressar na promoção de sua própria candidatura ao
governo da Califórnia. Vitorioso, segue os passos de Ronald Reagan, a
quem supera em fama conquistada
como ator, deixando as telas para comandar o mais populoso e rico dos
Estados norte-americanos. Imagem,
realidade e ficção entrelaçaram-se
como nunca nesse pleito em que
Hollywood e a cultura de massa
mostraram o seu cacife.
Há um mecanismo curioso no que
diz respeito a celebridades que postulam cargos públicos. Parte da mídia californiana tratou a candidatura
de Schwarzenegger de forma crítica.
Não obstante, ao cobri-la já acabava,
de certa forma, por endossá-la e glamorizá-la. Celebridades, uma vez
vencidas as resistências iniciais, tendem a desenvolver maior imunidade
a críticas do que políticos.
É razoável acreditar que um candidato tradicional teria mais dificuldades para passar incólume pelas acusações de assédio sexual e de simpatia por Hitler que recaíram sobre o
ator no final da campanha. Schwarzenegger, contudo, parece não ter
sofrido abalos nem mesmo diante
do eleitorado feminino, normalmente mais sensível a esse tipo de propaganda negativa.
Os atributos de celebridade, no entanto, não deverão ajudá-lo tanto a
partir de agora. A Califórnia enfrenta
sérias dificuldades econômicas. Foi
um déficit de US$ 38 bilhões que ajudou a derrubar o governador Gray
Davis no processo de "recall". Esse
rombo não desaparecerá com efeitos
especiais -o que poderá fazer com
que Schwarzenegger se veja compelido a rever a promessa de não aumentar impostos. Além disso, o futuro governador, que é republicano,
terá de lidar com um Legislativo majoritariamente democrata, quase
sempre contrário a cortes de despesas. Para agravar um pouco mais o
quadro, os californianos criaram,
nos anos recentes, algumas dificuldades extras. Seguindo a tradição de
"democracia direta" do Estado,
aprovaram uma série de vinculações
orçamentárias e pacotes de ajuda financeira que amarram ainda mais as
mãos dos administradores.
Não há dúvida de que os eleitores
compraram um risco ao eleger um
ator sem experiência política. Se o
seu governo, no entanto, será ou não
um filme explosivo só o futuro dirá.
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