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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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O RISCO SCHWARZENEGGER

Foi a vitória do espetáculo sobre a política. Com extrema desenvoltura, Arnold Schwarzenegger saiu da campanha publicitária de lançamento de "O Exterminador do Futuro 3", na qual se empenhava meses atrás, para ingressar na promoção de sua própria candidatura ao governo da Califórnia. Vitorioso, segue os passos de Ronald Reagan, a quem supera em fama conquistada como ator, deixando as telas para comandar o mais populoso e rico dos Estados norte-americanos. Imagem, realidade e ficção entrelaçaram-se como nunca nesse pleito em que Hollywood e a cultura de massa mostraram o seu cacife.
Há um mecanismo curioso no que diz respeito a celebridades que postulam cargos públicos. Parte da mídia californiana tratou a candidatura de Schwarzenegger de forma crítica. Não obstante, ao cobri-la já acabava, de certa forma, por endossá-la e glamorizá-la. Celebridades, uma vez vencidas as resistências iniciais, tendem a desenvolver maior imunidade a críticas do que políticos.
É razoável acreditar que um candidato tradicional teria mais dificuldades para passar incólume pelas acusações de assédio sexual e de simpatia por Hitler que recaíram sobre o ator no final da campanha. Schwarzenegger, contudo, parece não ter sofrido abalos nem mesmo diante do eleitorado feminino, normalmente mais sensível a esse tipo de propaganda negativa.
Os atributos de celebridade, no entanto, não deverão ajudá-lo tanto a partir de agora. A Califórnia enfrenta sérias dificuldades econômicas. Foi um déficit de US$ 38 bilhões que ajudou a derrubar o governador Gray Davis no processo de "recall". Esse rombo não desaparecerá com efeitos especiais -o que poderá fazer com que Schwarzenegger se veja compelido a rever a promessa de não aumentar impostos. Além disso, o futuro governador, que é republicano, terá de lidar com um Legislativo majoritariamente democrata, quase sempre contrário a cortes de despesas. Para agravar um pouco mais o quadro, os californianos criaram, nos anos recentes, algumas dificuldades extras. Seguindo a tradição de "democracia direta" do Estado, aprovaram uma série de vinculações orçamentárias e pacotes de ajuda financeira que amarram ainda mais as mãos dos administradores.
Não há dúvida de que os eleitores compraram um risco ao eleger um ator sem experiência política. Se o seu governo, no entanto, será ou não um filme explosivo só o futuro dirá.


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