UOL




São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Os dispensáveis, parte 2

BRASÍLIA - Como a gente ia dizendo na terça-feira, o politburo de Lula decide tudo, e o resto que se lixe. A última é que o Planalto e o Itamaraty definiram a posição brasileira na negociação da Alca sem convidar para a discussão os ministros Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues.
Ocorre que a Alca, como o nome já diz (Área de Livre Comércio das Américas), trata justamente de comércio exterior, da alçada de Furlan, e, de quebra, de agricultura, responsabilidade de Rodrigues.
Esse jeito PT de governar, dando ao politburo tudo e ao resto nada, já é uma praxe. A novidade, no caso da Alca, é uma mexida no núcleo de poder, com participação direta do chanceler Celso Amorim. Maridos traídos, Furlan e Rodrigues foram os últimos a saber e agiram: atraíram Palocci como aliado e botaram a boca no trombone. Rodrigues classificou a atuação do Itamaraty na última rodada da Alca de "rígida e intransigente". Depois, tentou o disse-que-não-disse, mas ficou o disse, reforçado pelo grito de Furlan exigindo participação nas decisões.
Ontem, Lula chamou a turma e cobrou uns por reclamar em público e outros por auto-suficiência. Ou seja: Rodrigues e Furlan podem ser criticados pela forma, por berrar na rua, mas não pelo conteúdo.
Eles representam o lado "pragmático" do governo, que prega a negociação da Alca, contra o lado "ideológico", tão claramente identificado na política externa, que defende uma espécie de boicote. Para o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, por exemplo, a Alca é, ou seria, pura "anexação". E ele não é pouca coisa. É secretário-geral do Itamaraty, o segundo homem na hierarquia.
Ficou do episódio, até aqui (porque muita água ainda vai rolar), uma lição de Rodrigues e Furlan aos demais ministros dispensáveis do governo: quem não chora não mama. Nesse governo, morre de fome.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: As vergonhas de antes e de agora
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Contemporâneos do passado
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.