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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Contemporâneos do passado

RIO DE JANEIRO - Há tempos, participei de um debate com editores de jornais e revistas sobre a necessidade do diploma para os comunicadores sociais, que antigamente eram conhecidos pelo nome de "jornalistas". Não houve consenso quanto à necessidade de um curso universitário para a habilitação profissional, mas foram unânimes as reclamações quanto ao nível cultural das novas gerações que chegam ao mercado de trabalho.
A principal constatação é relativamente antiga. Stanislaw Ponte Preta a imortalizou num samba famoso que pode ser considerado politicamente incorreto, mas continua verdadeiro. É comum, e progressivamente mais letal, a ignorância que gera a confusão de pessoas e fatos do passado, mesmo do mais recente. Como se o mundo tivesse começado a partir de Elis Regina, Pelé, Milton Nascimento e Ayrton Senna transformados em hégiras, em divisores do mundo pré-histórico e do atual.
Na cabeça de muitos desses jovens, o passado anterior a esses ícones do nosso tempo constitui uma muralha de granito, massa intransponível de nomes e de coisas que formam uma espécie de constelação sideral, a anos-luz de distância, onde estrelas, planetas e galáxias são a mesma coisa e fizeram as mesmas façanhas.
Já recebi textos em que o duque de Caxias, JK, o presidente Kennedy e Carlos Gardel eram íntimos, viviam na mesma cidade, faziam as mesmas coisas, frequentavam os mesmos botecos. Pasmado, como aquele morro que divide Botafogo de Copacabana, fiquei sabendo que Machado de Assis, o padre Anchieta e a Dercy Gonçalves podiam ser encontrados todos os dias na porta da confeitaria Colombo, que ficava na rua do Ouvidor, e não na Gonçalves Dias, este um poeta que escreveu "Os Sertões" e foi noivo de Carmem Miranda.
Pode parece exagero, mas esse tipo de salada é servido por aí e, muitas vezes, termina como fonte para as pesquisas na internet.


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