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NEGOCIAÇÃO DIFÍCIL
Depois de ter oferecido um
churrasco a seu colega George
W. Bush, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva manifestou otimismo
em relação ao encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC)
programado para dezembro, em
Hong Kong. Trata-se de mais uma
reunião da Rodada Doha, na qual se
discute um amplo processo de liberalização comercial. O ponto de
maior interesse do Brasil e de seus
aliados do chamado G-20 é a redução do protecionismo agrícola.
Haverá, com efeito, uma oportunidade para uma parceria com os EUA
em torno da questão. Não que os
norte-americanos tenham abdicado
de apoiar seus agricultores, mas se
vêm mostrando mais flexíveis do que
a União Européia nesse assunto.
Anteontem, todavia, uma reunião
prévia entre representantes do Brasil,
da Índia, da União Européia, dos
EUA e do Japão, para tentar avançar
as negociações, terminou sob o signo do pessimismo. O ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim,
aventou a hipótese de que o encontro
em Hong Kong não irá prosperar. E
acenou com a possibilidade de reduzir o "nível de expectativa" -o que
equivale a uma sinalização de que a
contrapartida do G-20 para produtos
industriais e serviços dos países ricos
poderá ser menos ambiciosa.
Paralelamente, o ministro brasileiro encontrou-se com o premiê britânico, Tony Blair, a quem manifestou
a perspectiva de uma oferta mais firme dos países em desenvolvimento
caso a UE decida dar um passo importante na questão agrícola. O ministro considerou possível o Brasil
cortar em 50% as tarifas industriais
se a Europa reduzir em 54% as alíquotas para produtos agrícolas.
Não são poucos os analistas que
vêem com ceticismo as chances de
um acordo em Hong Kong. Um fiasco não representará necessariamente
o fim da Rodada Doha, mas será um
revés para o Brasil e mais uma demonstração de que, para os países ricos, fazer concessões é em geral uma
obrigação dos mais pobres.
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