São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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NEGOCIAÇÃO DIFÍCIL

Depois de ter oferecido um churrasco a seu colega George W. Bush, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou otimismo em relação ao encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) programado para dezembro, em Hong Kong. Trata-se de mais uma reunião da Rodada Doha, na qual se discute um amplo processo de liberalização comercial. O ponto de maior interesse do Brasil e de seus aliados do chamado G-20 é a redução do protecionismo agrícola.
Haverá, com efeito, uma oportunidade para uma parceria com os EUA em torno da questão. Não que os norte-americanos tenham abdicado de apoiar seus agricultores, mas se vêm mostrando mais flexíveis do que a União Européia nesse assunto.
Anteontem, todavia, uma reunião prévia entre representantes do Brasil, da Índia, da União Européia, dos EUA e do Japão, para tentar avançar as negociações, terminou sob o signo do pessimismo. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, aventou a hipótese de que o encontro em Hong Kong não irá prosperar. E acenou com a possibilidade de reduzir o "nível de expectativa" -o que equivale a uma sinalização de que a contrapartida do G-20 para produtos industriais e serviços dos países ricos poderá ser menos ambiciosa.
Paralelamente, o ministro brasileiro encontrou-se com o premiê britânico, Tony Blair, a quem manifestou a perspectiva de uma oferta mais firme dos países em desenvolvimento caso a UE decida dar um passo importante na questão agrícola. O ministro considerou possível o Brasil cortar em 50% as tarifas industriais se a Europa reduzir em 54% as alíquotas para produtos agrícolas.
Não são poucos os analistas que vêem com ceticismo as chances de um acordo em Hong Kong. Um fiasco não representará necessariamente o fim da Rodada Doha, mas será um revés para o Brasil e mais uma demonstração de que, para os países ricos, fazer concessões é em geral uma obrigação dos mais pobres.


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