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CLÓVIS ROSSI
O errático Lula
SÃO PAULO - Não há muito a acrescentar ao que escreveu ontem Marcelo Coelho, com a acuidade habitual,
a respeito do programa "Roda Viva"
com a participação de Luiz Inácio
Lula da Silva. Lula falou muito e não
disse nada, mas, assim mesmo, saiu
no lucro pelo simples fato de ter falado muito e sem a truculência de algumas de suas falas de palanque.
Só acho importante acrescentar um
detalhe que me parece relevante. O
presidente decretou que não houve
"mensalão", hipótese que já foi repetida uma e outra vez por petistas menos graduados e passou batida pelos
comentaristas em geral.
Se é verdade que não está provada
a existência de um "mensalão", trata-se de detalhe absolutamente irrelevante. O que está provado, comprovado e confessado é o pagamento a
deputados. Se foi mensal, anual, semestral, em duas parcelas, três ou
cinco, não tem a menor importância.
O que conta é o fato de que o PTduto
comprou deputados. Ponto.
Desviar a questão para a palavra
"mensalão" é fugir dos fatos, procurando demonstrar que, se Roberto
Jefferson falou em "mensalão" e não
há "mensalão" (ou não se provou
"mensalão"), não há crime. Mentira.
Falsificação dos fatos. Há compra de
deputados, e é isso o que importa,
não a periodicidade das compras.
No mais, o presidente passa a sensação de que caminha sobre terreno
minado. Quando desmente alguma
coisa, o faz timidamente, como se temesse que, amanhã ou depois, os fatos o desmintam.
Talvez por isso Lula é tortuoso, dá
voltas e voltas em cada frase, diz uma
coisa hoje e outra no dia seguinte ou
dois meses depois.
Ou, posto de outra forma, raramente dá a sensação de que tem o pleno
controle da situação e, principalmente, das informações sobre o seu governo e o que fazem ou deixam de fazer
seus auxiliares (vide o vexame sobre
a aftosa).
É uma das razões, talvez a principal, para o caráter igualmente errático da temperatura política.
@ - crossi@uol.com.br
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