São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Pantomina no Congresso

BRASÍLIA - Com oito anos de atraso, o deputado Ronivon Santiago deu ontem um depoimento a uma CPI que deveria investigar a compra de votos a favor da emenda da reeleição.
Uma memória rápida. Em 1997, dois deputados (Ronivon e João Maia) confessaram em inúmeras conversas pessoais gravadas terem vendido o voto por R$ 200 mil em dinheiro. As fitas foram entregues ao Congresso. Os deputados renunciaram. Escaparam da cassação. FHC deu cargos e ministérios para o PMDB. Não houve CPI. Nunca se investigou o fato a sério.
Ronivon falou ontem à CPI do Mensalão, cuja finalidade é investigar a compra de votos no Congresso nos últimos anos. A inclusão desse caso foi uma forma de os petistas ameaçarem os tucanos. Algo como "nós sabemos o que vocês fizeram no verão passado". Era para não dar em nada. E deu em nada.
É impossível provar se houve acordo entre governo e oposição. Mas há indícios sobre o curioso desinteresse dos congressistas pelo assunto:
1) Ronivon (ele tem esse nome artístico porque se considerava, no passado, parecido com o cantor) entrou na CPI e negou tudo. Nenhum petista de primeira grandeza apresentou-se para contestá-lo. Aloizio Mercadante estava mais ocupado tentando impedir a prorrogação dos prazos das outras CPIs em andamento;
2) o relator da CPI do Mensalão, Ibrahim Abi-Ackel, perguntou sobre as conversas telefônicas (sic) de Ronivon que atestariam a venda do voto. Desinformado, esse deputado nem sequer se deu ao trabalho de fazer o dever de casa antes do depoimento. Não houve telefonemas gravados. As conversas foram pessoais.
Petistas ingênuos salivaram no meio do escândalo atual quando foi instalada a CPI do Mensalão. Achavam que iriam "pegar" FHC. Tolos. Era só jogo político. O PT queria trégua para Lula. Em troca, oferece mais um atestado de bons antecedentes ao governo tucano.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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