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PERDAS E GANHOS
Agora que a diplomacia brasileira já demonstrou ser capaz
de se comportar com altivez nas negociações comerciais, resta saber se
está preparada para a nova fase de
tratativas com vistas à formação da
Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Até aqui o foco do Brasil
esteve na pressão por maior abertura
agrícola e no desenho de uma moldura para as negociações que permitisse ao país preservar sua autonomia
em áreas que considera estratégicas
-como política industrial, investimentos e compras governamentais.
Como se sabe, na reunião de Miami, o formato defendido pelo Brasil
ganhou o apoio dos EUA. Ambos
concordaram com a chamada Alca
Light, que prevê um acordo mínimo
entre todos os países-membros e
acertos bilaterais ou plurilaterais para tratar de temas sensíveis.
Fechado esse modelo, o que se viu
na reunião realizada em Puebla, no
México, encerrada no final da semana passada, foi a abertura de um novo cenário de conversações, para o
qual, ao que tudo indica, os negociadores ainda não se encontram devidamente preparados. Não por acaso,
a reunião acabou em "recesso", com
a promessa de ser retomada no início
de março. Como comentou o embaixador Adhemar Bahadian, "acabou a
fase do faz-de-conta". Daqui para a
frente será preciso assumir perdas e
ganhos, ceder e obter concessões,
sem ilusões quanto à possibilidade
de apenas ganhar.
Está claro, por exemplo, que ao resguardar áreas que considera importantes, o Brasil estará sujeito a obter
menos acesso a mercados do que os
países mais inclinados a fazer concessões. Para superar os desafios
dessa nova fase, a diplomacia brasileira terá que contar com análises e
cenários confiáveis. Os estudos realizados muitas vezes são contraditórios, talvez por expressar visões de
setores interessados. Será indispensável também aprofundar o debate
com os agentes econômicos com vistas a tomar decisões que, em última
instância, irão dizer muito sobre
quem vai perder e quem vai ganhar
nesse processo.
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