São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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PERDAS E GANHOS

Agora que a diplomacia brasileira já demonstrou ser capaz de se comportar com altivez nas negociações comerciais, resta saber se está preparada para a nova fase de tratativas com vistas à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Até aqui o foco do Brasil esteve na pressão por maior abertura agrícola e no desenho de uma moldura para as negociações que permitisse ao país preservar sua autonomia em áreas que considera estratégicas -como política industrial, investimentos e compras governamentais.
Como se sabe, na reunião de Miami, o formato defendido pelo Brasil ganhou o apoio dos EUA. Ambos concordaram com a chamada Alca Light, que prevê um acordo mínimo entre todos os países-membros e acertos bilaterais ou plurilaterais para tratar de temas sensíveis.
Fechado esse modelo, o que se viu na reunião realizada em Puebla, no México, encerrada no final da semana passada, foi a abertura de um novo cenário de conversações, para o qual, ao que tudo indica, os negociadores ainda não se encontram devidamente preparados. Não por acaso, a reunião acabou em "recesso", com a promessa de ser retomada no início de março. Como comentou o embaixador Adhemar Bahadian, "acabou a fase do faz-de-conta". Daqui para a frente será preciso assumir perdas e ganhos, ceder e obter concessões, sem ilusões quanto à possibilidade de apenas ganhar.
Está claro, por exemplo, que ao resguardar áreas que considera importantes, o Brasil estará sujeito a obter menos acesso a mercados do que os países mais inclinados a fazer concessões. Para superar os desafios dessa nova fase, a diplomacia brasileira terá que contar com análises e cenários confiáveis. Os estudos realizados muitas vezes são contraditórios, talvez por expressar visões de setores interessados. Será indispensável também aprofundar o debate com os agentes econômicos com vistas a tomar decisões que, em última instância, irão dizer muito sobre quem vai perder e quem vai ganhar nesse processo.


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