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VINICIUS TORRES FREIRE
Macumbas e o vôo da galinha
SÃO PAULO - Há um ano, o dólar valia R$ 2,35. O risco-país flutuava em
torno de 700 pontos, pouco acima do
piso brasileiro. No auge da crise, em
outubro de 2002, o risco foi a 2.500
pontos, e o dólar a R$ 4.
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, está todo pimpão com sua
política. Risco ali nos 1.100 pontos,
dólar escorregando para baixo de R$
3,50. Risco menor é indicador aproximado de melhora do crédito do país,
e a falta de crédito está na raiz da
presente alta da inflação e dos juros.
Mas não se sabe se a melhora não
passa de um vôo de galinha.
Grosso modo, a economia segue no
regime de quem foi à breca. O país
quebrou em 2002. Em 60 anos, inversões tão rápidas das transações externas como a de 2002 só ocorreram em
1983-84 e em 1987-88, anos de moratória. A recessão foi disfarçada pela
relativa melhora da balança comercial (exportações menos importações), melhora em 90% devida à queda na importação. Para tanto, investimento e consumo caíram. Não vão
muito melhor, agora.
Isto posto, o que é o aguado debate
sobre "planos B" e/ou "política econômica alternativa"? Há idéias de
macumbas inglórias, como baixar juros já e deixar o governo gastar, o que
daria em um pico letal de crescimento, seguido de inflação e/ou crise de
balanço de pagamentos (falta de dólares por excesso de consumo nacional). Pode-se ainda controlar o câmbio e fechar o país, o que tende a produzir uma argentinização artificial e,
dizem os defensores da idéia, um futuro de crescimento, mas sobre prováveis ruínas.
Em parte, Palocci vai bem. Na outra parte, Lula nada propõe para estimular o comércio externo de modo a
não precisarmos de recessão para obter dólares. Sua reforma das contas
públicas (em suma, da Previdência) é
tímida e pode criar mais problemas
no curto prazo, sem falar da inação
no desenvolvimento social, ora mero
e tosco assistencialismo.
Política macroeconômica alternativa dará besteira. Mas um governo
alternativo viria a calhar.
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