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São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Macumbas e o vôo da galinha

SÃO PAULO - Há um ano, o dólar valia R$ 2,35. O risco-país flutuava em torno de 700 pontos, pouco acima do piso brasileiro. No auge da crise, em outubro de 2002, o risco foi a 2.500 pontos, e o dólar a R$ 4.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, está todo pimpão com sua política. Risco ali nos 1.100 pontos, dólar escorregando para baixo de R$ 3,50. Risco menor é indicador aproximado de melhora do crédito do país, e a falta de crédito está na raiz da presente alta da inflação e dos juros. Mas não se sabe se a melhora não passa de um vôo de galinha.
Grosso modo, a economia segue no regime de quem foi à breca. O país quebrou em 2002. Em 60 anos, inversões tão rápidas das transações externas como a de 2002 só ocorreram em 1983-84 e em 1987-88, anos de moratória. A recessão foi disfarçada pela relativa melhora da balança comercial (exportações menos importações), melhora em 90% devida à queda na importação. Para tanto, investimento e consumo caíram. Não vão muito melhor, agora.
Isto posto, o que é o aguado debate sobre "planos B" e/ou "política econômica alternativa"? Há idéias de macumbas inglórias, como baixar juros já e deixar o governo gastar, o que daria em um pico letal de crescimento, seguido de inflação e/ou crise de balanço de pagamentos (falta de dólares por excesso de consumo nacional). Pode-se ainda controlar o câmbio e fechar o país, o que tende a produzir uma argentinização artificial e, dizem os defensores da idéia, um futuro de crescimento, mas sobre prováveis ruínas.
Em parte, Palocci vai bem. Na outra parte, Lula nada propõe para estimular o comércio externo de modo a não precisarmos de recessão para obter dólares. Sua reforma das contas públicas (em suma, da Previdência) é tímida e pode criar mais problemas no curto prazo, sem falar da inação no desenvolvimento social, ora mero e tosco assistencialismo.
Política macroeconômica alternativa dará besteira. Mas um governo alternativo viria a calhar.


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