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São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2003

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VALDO CRUZ

Descompasso

BRASÍLIA - Passado o Carnaval, recomeçam de fato somente agora, em pleno março, os trabalhos do Congresso no Brasil. Mais de dois meses perdidos, de quase que total inércia no campo do Legislativo.
Nesse período, os únicos fatos importantes gerados dentro do Parlamento brasileiro foram muito mais de interesse dos próprios congressistas do que do país, da população.
Quais sejam: a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, o processo que levou à renúncia do deputado Pinheiro Landim e o debate constrangido do grampo baiano.
Num país repleto de carências e de tantas urgências, dar-se ao luxo de perder mais de dois meses num ano é algo inadmissível. Mas acontece. E não é de hoje, mas desde sempre.
Difícil imaginar uma empresa ou um trabalhador no Brasil andando devagar, quase parando, durante tanto tempo. A empresa quebraria. O trabalhador estaria na rua.
No caso do Congresso, ele não quebra. Nem fecha. E ainda bem que não fecha. Porque aí seria muito pior. Afinal, ele é fundamental para a vida do país, ainda mais com reformas como a tributária e a previdenciária na ordem do dia.
Reformas que, por sinal, ainda não estão fechadas. A lógica indica que elas já deveriam estar no Congresso, prontas para serem debatidas. O capital político do presidente continua alto, o que sempre facilita a aprovação de suas propostas.
Tucanos e pefelistas, a nova oposição no Congresso, têm reclamado dessa demora dos petistas, que preferem um amplo debate antes de fechar suas reformas constitucionais.
Mas reclamam sem muita razão. Por que eles não elaboram suas propostas e começam a debatê-las já? Afinal, há muito que se ouve a queixa de que o Executivo legisla demais. O Congresso, de menos.
 

Quando as reformas começarem a ser votadas, Lula corre o risco de ter menos votos favoráveis no PT do que na oposição. Para evitar essa catástrofe, a cúpula petista vai fechar questão dentro do partido. Todo mundo terá de votar a favor.


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