São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Lula venceu o primeiro tempo

SÃO PAULO - O eleitor está comendo banana, coçando uma pereba e quentando ao sol, como a família mineira do poema de Drummond. Desde o começo do ano, não muda de opinião sobre quem deve ser o próximo presidente. Lula venceu o primeiro tempo da eleição.
Não adiantou o governo conspirar contra o caseiro Nildo, nem Antonio Palocci ser fichado na polícia. Nem o fato de o eleitor ter ficado algo mais pessimista com a economia, talvez por ter associado nebulosamente algumas notícias de TV sobre dólar e ministro da economia a algum risco para seu emprego e sustento.
O eleitor, de resto, pelo Datafolha manda avisar que, sem Anthony Garotinho no páreo, elege Lula já no primeiro turno.
A julgar pela série de pesquisas Datafolha, seria necessário combinar a quase estagnação econômica de 2005 com o tumulto político intenso do final do ano passado a fim de fazer o eleitorado se voltar contra Lula. Apenas classe média, famílias que ganham mais de R$ 3.000 reais, e os poucos ricos (uns 5% do eleitorado, os dois grupos) se incomodaram com a nova série de vexames do governo.
A eleição de 2006 ainda é a mais polarizada desde a redemocratização, o eleitor do Norte votando ao inverso do eleitor do Sul, os mais pobres agindo ao inverso dos mais remediados. A eleição está em ponto morto.
Motivo? Além de oferecer mais e melhores benefícios sociais, o governo Lula capilarizou a rede de atendimento social e de contato com os pobres, por meio de cartões sociais, de comitês de controle das bolsas sociais, de contas em banco e crédito miúdo. O Estado deu as caras a muita gente que com ele pouco contato tivera.
Para entrar com chances no segundo tempo da eleição, os meses de campanha, a oposição terá de providenciar muito tumulto político, um escândalo que vá direto ao coração de Lula. Terá de convencer o povo de que vai oferecer mais caraminguás sociais, inflação baixa e emprego. De quebra, terá de esmolar na porta do PMDB, pedindo a candidatura de Garotinho, Itamar Franco ou de um poste peemedebista mais charmoso. Ou perde logo no primeiro turno.


@ - vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Editoriais: CARÊNCIA LEGISLATIVA

Próximo Texto: Brasília - Igor Gielow: Versões e fatos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.