São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

Um brinde à picaretagem

SÃO PAULO - Lula da Silva bebe demais? O que é "demais"? Não é tão fácil definir e é difícil encontrar evidências de que seu hábito de beber estorva o governo, caso em que tal informação teria interesse público.
Um repórter do "New York Times" ouviu fontes de segunda e terceira mão, citou gente inimputável, recolheu fofocas e relatou ontem em seu jornal que a bebedeira de Lula é "preocupação nacional".
A reportagem é um lixo. Mas um jornalista americano de quinta categoria se sente à vontade para escrever o quer sobre um governo de terceira de um país de segunda classe. Afinal, nós somos uma espécie de Sudistão e o "Times" parece demitir apenas os Jayson Blair que trabalham nos EUA -os demais são enviados como correspondentes para países obscuros (Blair, como se sabe, era o repórter cascateiro-mor do "Times").
De resto, a preocupação nacional por ora não são os tragos no governo, mas o fato de que a administração Lula é intragável de tão inepta. Se o governo deixasse de ser tão disparatado, faríamos um brinde. Tim-tim.
Lula bebe e fuma (este jornalista também). Aparece em público com canecas de cerveja, copos de uísque e se congratula por isso. Há rumores de que fica alcoolizado em festas. Mas os jornalistas da Folha não sabemos se o presidente sofre de alcoolismo ou se o álcool que bebe afeta sua capacidade de trabalhar (se tivéssemos evidências factuais, teríamos publicado).
Beber é problema? Há gente que bebe, fuma maconha, toma cocaína e é capaz de trabalhar, dirigir empresas, ministérios, escrever em jornal. Há gente que bebe, cheira e arruina a sua vida, quando não a dos outros. É aleatório, uma roleta russa, e drogas fazem mal mesmo (assim como pregar magreza anoréxica, comer gordura demais, respirar poluição).
Não é bom mostrar consumo de drogas diante de crianças, por exemplo. Como Lula é a pessoa mais fotografada e filmada do país, associações que combatem o alcoolismo pediram ao presidente que procure não dar mau exemplo. Resolve?
O mais significativo dessa história de bebida é que o governo, de tão fraco, começa a perder o respeito. Caiu na boca do povo.



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