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VINICIUS TORRES FREIRE
Um brinde à picaretagem
SÃO PAULO - Lula da Silva bebe demais? O que é "demais"? Não é tão
fácil definir e é difícil encontrar evidências de que seu hábito de beber estorva o governo, caso em que tal informação teria interesse público.
Um repórter do "New York Times"
ouviu fontes de segunda e terceira
mão, citou gente inimputável, recolheu fofocas e relatou ontem em seu
jornal que a bebedeira de Lula é
"preocupação nacional".
A reportagem é um lixo. Mas um
jornalista americano de quinta categoria se sente à vontade para escrever
o quer sobre um governo de terceira
de um país de segunda classe. Afinal,
nós somos uma espécie de Sudistão e
o "Times" parece demitir apenas os
Jayson Blair que trabalham nos EUA
-os demais são enviados como correspondentes para países obscuros
(Blair, como se sabe, era o repórter
cascateiro-mor do "Times").
De resto, a preocupação nacional
por ora não são os tragos no governo,
mas o fato de que a administração
Lula é intragável de tão inepta. Se o
governo deixasse de ser tão disparatado, faríamos um brinde. Tim-tim.
Lula bebe e fuma (este jornalista
também). Aparece em público com
canecas de cerveja, copos de uísque e
se congratula por isso. Há rumores de
que fica alcoolizado em festas. Mas os
jornalistas da Folha não sabemos se o
presidente sofre de alcoolismo ou se o
álcool que bebe afeta sua capacidade
de trabalhar (se tivéssemos evidências factuais, teríamos publicado).
Beber é problema? Há gente que bebe, fuma maconha, toma cocaína e é
capaz de trabalhar, dirigir empresas,
ministérios, escrever em jornal. Há
gente que bebe, cheira e arruina a
sua vida, quando não a dos outros. É
aleatório, uma roleta russa, e drogas
fazem mal mesmo (assim como pregar magreza anoréxica, comer gordura demais, respirar poluição).
Não é bom mostrar consumo de
drogas diante de crianças, por exemplo. Como Lula é a pessoa mais fotografada e filmada do país, associações que combatem o alcoolismo pediram ao presidente que procure não
dar mau exemplo. Resolve?
O mais significativo dessa história
de bebida é que o governo, de tão fraco, começa a perder o respeito. Caiu
na boca do povo.
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