São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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SURPRESA BOLIVIANA

Contra todas as expectativas, o líder indígena, marxista e defensor da reestatização e do plantio de coca, Evo Morales, passou para o segundo turno das eleições presidenciais bolivianas, que serão agora decididas pelo Congresso. Morales vai disputar o cargo máximo do país com o liberal Gonzalo Sánchez de Lozada, que já ocupou a Presidência de 1993 a 1997. A lógica indica que Sánchez vencerá.
Um dos responsáveis involuntários pelo sucesso do líder cocaleiro foi o embaixador norte-americano na Bolívia, Manuel Rocha, que, a quatro dias do pleito, ameaçou os eleitores, afirmando que a escolha de "apoiadores do narcotráfico" implicaria a suspensão do auxílio americano, além de sanções econômicas. A declaração despertou os brios nacionalistas dos bolivianos. Morales, que até então vinha com cerca 12% das intenções de voto nas pesquisas, acabou alcançando pouco mais de 20%.
Apesar de seus efeitos indesejados, a colocação do embaixador espelha a política dos EUA para o país andino, a qual vem se resumindo à tentativa de erradicar o plantio de coca. Sob o governo de Hugo Banzer (de 1997 até agosto de 2001, quando renunciou por causa de um câncer), os EUA financiaram a redução pela metade do cultivo de coca, mas isso gerou dificuldades sociais para os cocaleiros. Eles sustentam que a coca, além de ter utilização tradicional na região (mais ou menos como a erva-mate para os gaúchos), é a única cultura que lhes permite sobreviver.
O efeito da pressão dos EUA sobre os centros produtores de coca foi duvidoso. Consumidores de drogas norte-americanos migraram para fármacos sintéticos. As condições sociais dos plantadores em países como a Bolívia se agravaram. Assim, a passagem de Morales ao segundo turno é mais um sintoma do fracasso das políticas dos EUA para a região.


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