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SURPRESA BOLIVIANA
Contra todas as expectativas,
o líder indígena, marxista e defensor da reestatização e do plantio
de coca, Evo Morales, passou para o
segundo turno das eleições presidenciais bolivianas, que serão agora
decididas pelo Congresso. Morales
vai disputar o cargo máximo do país
com o liberal Gonzalo Sánchez de
Lozada, que já ocupou a Presidência
de 1993 a 1997. A lógica indica que
Sánchez vencerá.
Um dos responsáveis involuntários
pelo sucesso do líder cocaleiro foi o
embaixador norte-americano na Bolívia, Manuel Rocha, que, a quatro
dias do pleito, ameaçou os eleitores,
afirmando que a escolha de "apoiadores do narcotráfico" implicaria a
suspensão do auxílio americano,
além de sanções econômicas. A declaração despertou os brios nacionalistas dos bolivianos. Morales, que
até então vinha com cerca 12% das
intenções de voto nas pesquisas, acabou alcançando pouco mais de 20%.
Apesar de seus efeitos indesejados,
a colocação do embaixador espelha a
política dos EUA para o país andino,
a qual vem se resumindo à tentativa
de erradicar o plantio de coca. Sob o
governo de Hugo Banzer (de 1997 até
agosto de 2001, quando renunciou
por causa de um câncer), os EUA financiaram a redução pela metade do
cultivo de coca, mas isso gerou dificuldades sociais para os cocaleiros.
Eles sustentam que a coca, além de
ter utilização tradicional na região
(mais ou menos como a erva-mate
para os gaúchos), é a única cultura
que lhes permite sobreviver.
O efeito da pressão dos EUA sobre
os centros produtores de coca foi duvidoso. Consumidores de drogas
norte-americanos migraram para
fármacos sintéticos. As condições
sociais dos plantadores em países
como a Bolívia se agravaram. Assim,
a passagem de Morales ao segundo
turno é mais um sintoma do fracasso
das políticas dos EUA para a região.
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