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CLÓVIS ROSSI
Falta "pegadinha"
SÃO PAULO - Escrevo, por motivos industriais, antes da entrevista de
Anthony Garotinho (PSB) ao "Jornal
Nacional", a segunda da série organizada pela Rede Globo. Corro, pois,
o risco de queimar a língua.
Ainda assim, vamos lá: pela primeira amostra, a de Ciro Gomes (PPS/
PDT/PTB), parece pouco razoável
imaginar que as entrevistas provocarão mudanças substanciais no cenário desenhado pela mais recente pesquisa Datafolha.
Por mais louvável e necessário que
seja discutir idéias e programas, em
vez de fazer ataques, como os âncoras
do telejornal anunciaram, o fato é
que, por esse caminho, não se vai longe. Os candidatos, todos, têm enorme
quilometragem rodada na estrada
da política e das campanhas eleitorais para tropeçarem feio em perguntas apenas sobre programas.
E aí não é culpa nem de Fátima
Bernardes nem de William Bonner,
mas do fato de que, feliz ou infelizmente, jornalistas não dispõem de
"pau-de-arara" ou de "cadeira do
dragão" para obrigar o entrevistado
a dizer algo comprometedor (mesmo
que seja apenas a verdade).
Vamos ser francos: o que faz eventualmente a diferença, em entrevistas
de candidatos ou em debates entre
eles, é a "pegadinha", exatamente o
que a Globo anunciou que não fará.
"Pegadinha", por exemplo, como a
que Boris Casoy usou para encalacrar Fernando Henrique Cardoso em
debate durante a campanha eleitoral
municipal de 1985 ao perguntar ao
senador sobre o seu ateísmo. Há
quem ache que FHC perdeu (para Jânio Quadros) por isso.
Se o Boris me perdoa, a pergunta
era irrelevante. A votação não era
para papa, mas para prefeito. E prefeitos ateus podem ser tão bons ou até
melhores do que prefeitos autenticamente religiosos.
O fato é que falar sobre programas
e propostas é o que os candidatos
mais sabem. Não será por aí que cairão em embaraços suficientes para
modificar substancialmente o cenário eleitoral.
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