São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Falta "pegadinha"

SÃO PAULO - Escrevo, por motivos industriais, antes da entrevista de Anthony Garotinho (PSB) ao "Jornal Nacional", a segunda da série organizada pela Rede Globo. Corro, pois, o risco de queimar a língua.
Ainda assim, vamos lá: pela primeira amostra, a de Ciro Gomes (PPS/ PDT/PTB), parece pouco razoável imaginar que as entrevistas provocarão mudanças substanciais no cenário desenhado pela mais recente pesquisa Datafolha.
Por mais louvável e necessário que seja discutir idéias e programas, em vez de fazer ataques, como os âncoras do telejornal anunciaram, o fato é que, por esse caminho, não se vai longe. Os candidatos, todos, têm enorme quilometragem rodada na estrada da política e das campanhas eleitorais para tropeçarem feio em perguntas apenas sobre programas.
E aí não é culpa nem de Fátima Bernardes nem de William Bonner, mas do fato de que, feliz ou infelizmente, jornalistas não dispõem de "pau-de-arara" ou de "cadeira do dragão" para obrigar o entrevistado a dizer algo comprometedor (mesmo que seja apenas a verdade).
Vamos ser francos: o que faz eventualmente a diferença, em entrevistas de candidatos ou em debates entre eles, é a "pegadinha", exatamente o que a Globo anunciou que não fará.
"Pegadinha", por exemplo, como a que Boris Casoy usou para encalacrar Fernando Henrique Cardoso em debate durante a campanha eleitoral municipal de 1985 ao perguntar ao senador sobre o seu ateísmo. Há quem ache que FHC perdeu (para Jânio Quadros) por isso.
Se o Boris me perdoa, a pergunta era irrelevante. A votação não era para papa, mas para prefeito. E prefeitos ateus podem ser tão bons ou até melhores do que prefeitos autenticamente religiosos.
O fato é que falar sobre programas e propostas é o que os candidatos mais sabem. Não será por aí que cairão em embaraços suficientes para modificar substancialmente o cenário eleitoral.



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