São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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As azêmolas de FHC

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Chame um tucano para discutir a globalização e você terá horas de papo furado. Mas, quando o assunto é prático, aí os tucanos não querem nem saber.
É o caso da instalação da Ford na Bahia. Até os transeuntes do viaduto do Chá dariam importância ao tema se soubessem que a segunda maior montadora do planeta desejava vir para o Brasil.
Não o governo tucano. Primeiro, houve um desdém total para as tentativas do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), que buscava um entendimento com a montadora norte-americana.
Quando a vaca do petista Olívio Dutra foi para o brejo, era possível identificar risinhos de canto de boca em alguns tucanos em Brasília.
A Ford então escolheu a Bahia. Os baianos fizeram o óbvio: buscaram incentivos federais para a montadora. Por duas vezes o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) esteve com o ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer. Não ouviu nada que indicasse obstáculos intransponíveis.
Essa hesitação da equipe econômica criou um problemão para FHC: ou hostilizava ACM ou mantinha a Ford na Bahia, passando a imagem de fraco. Deu a lógica. FHC mandou dizer ontem que a Ford fica na Bahia.
Lafer, Pedro Malan (Fazenda), Pedro Parente (Planejamento) e Clóvis Carvalho (Casa Civil) tinham a obrigação de ter evitado que a situação chegasse aonde chegou.
Mas onde estavam os tucanos e a equipe econômica durante a negociação da Ford com a Bahia? Onde estava Celso Lafer, que não tinha o direito de ficar sem pensar no assunto nem um dia sequer? Lafer estava na Cimeira, frequentando coquetéis.
Fique claro, portanto, que a crise ACM-Ford, vencida até agora pelo baiano, foi gerada pela inépcia do governo. E os patronos foram as azêmolas da equipe econômica.


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