São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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DIÁLOGO COREANO

É uma boa notícia a de que Coréia do Sul e do Norte vão retomar o diálogo depois de uma interrupção de 18 meses. Um encontro ministerial está marcado para a próxima semana. A fronteira entre os dois países permanece uma das mais militarizadas do mundo, e a oposição entre Seul e Pyongyang é considerada por muitos como a última ferida aberta da Guerra Fria.
Na verdade, esses últimos 18 meses de tensão é que constituem a anomalia, pois, desde 2000, os dois países vinham se reaproximando num processo que parecia consistente. O diálogo entre as duas nações valeu a Kim Dae-jung, o presidente sul-coreano, o Nobel da Paz de 2000.
O diálogo foi rompido pouco depois dos atentados de 11 de setembro, quando os EUA endureceram suas posições em relação ao Norte comunista, que é acusado por Washington de produzir armas de destruição em massa, e o Sul reforçou seus efetivos militares na fronteira. Nesse período de tensões, os dois países chegaram a participar de uma escaramuça naval que deixou um saldo de 18 marinheiros mortos.
É mais um percalço lamentável que deve ser creditado a George W. Bush e à sua convicção de que os EUA lideram a "guerra do bem contra o mal". Mas a lógica que vinha determinando a reaproximação entre as duas Coréias permanece essencialmente inalterada: o Norte precisa desesperadamente do auxílio. A situação econômica é tão caótica que o país enfrenta fome há vários anos. E é uma fome severa. Segundo alguns cálculos, 2 milhões de norte-coreanos (cerca de 10% da população) teriam morrido de causas relacionadas à desnutrição entre 1995 e 1998. Estimativas mais conservadoras falam em 1 milhão de mortos.
O quadro na Coréia do Norte é tão desolador que Pyongyang possivelmente acabará capitulando ante Seul, num processo não muito diferente do que levou a antiga Alemanha Ocidental a incorporar a sua contraparte Oriental. Para que isso ocorra, entretanto, será preciso que George W. Bush não atrapalhe.



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