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CLÓVIS ROSSI
O longo túnel
SÃO PAULO - Ficamos assim:
1 - O acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) é como diz
Luiz Inácio Lula da Silva: desagradável como ir ao dentista, mas, nas circunstâncias, inevitável como ir ao
dentista quando dói o dente.
2 - O acordo com o FMI, como diz
Ciro Gomes, projeta para o futuro
"políticas equivocadas".
Do meu ponto de vista, o equívoco
principal é o brutal tamanho do superávit primário (receitas menos despesas do governo, excluídos os juros).
Não há país no mundo que esteja fazendo um esforço fiscal tão formidável quanto o Brasil.
Se fosse a Alemanha, ainda vá lá,
porque os alemães já estão com a vida ganha, bem organizada e bem
protegida. No Brasil, com carências
sociais escandalosas, o governo "dar
lucro" chega a ser obsceno.
3 - Não obstante, qualquer futuro
governo estará condenado a gerar o
tal superávit sob pena de ser varrido
do mapa pela reação dos mercados.
Afinal, o superávit destina-se a assegurar aos credores que a dívida
continuará a ser paga.
Quanto à dívida social, dane-se.
Pobre não pode tirar dinheiro nem
do bolso, quanto mais do país.
4 - Portanto, como já foi dito neste
espaço, qualquer futuro governo enfrentará um situação do tipo "catch
22", meio sem saída.
Se brigar com os mercados, o dinheiro some e a crise aumenta.
Se aceitar a ditadura dos mercados,
corre o sério risco de desiludir profundamente a rua, já ressabiada, e
desmoralizar-se (como aconteceu
com Fernando de la Rúa, na Argentina, e Alejandro Toledo, no Peru, entre tantos outros).
5 - Não é o caso (ainda) de dar um
tiro no coco, mas é, sim, o caso de perder as ilusões. Qualquer melhoria
real na dor-país (não no risco-país)
demora, depende de políticas que
exigem uma ampla (e nova) coalizão
interna e também de um apoio externo, que terá de ser penosa e lentamente construído.
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