São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O longo túnel

SÃO PAULO - Ficamos assim:
1 - O acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) é como diz Luiz Inácio Lula da Silva: desagradável como ir ao dentista, mas, nas circunstâncias, inevitável como ir ao dentista quando dói o dente.
2 - O acordo com o FMI, como diz Ciro Gomes, projeta para o futuro "políticas equivocadas".
Do meu ponto de vista, o equívoco principal é o brutal tamanho do superávit primário (receitas menos despesas do governo, excluídos os juros). Não há país no mundo que esteja fazendo um esforço fiscal tão formidável quanto o Brasil.
Se fosse a Alemanha, ainda vá lá, porque os alemães já estão com a vida ganha, bem organizada e bem protegida. No Brasil, com carências sociais escandalosas, o governo "dar lucro" chega a ser obsceno.
3 - Não obstante, qualquer futuro governo estará condenado a gerar o tal superávit sob pena de ser varrido do mapa pela reação dos mercados.
Afinal, o superávit destina-se a assegurar aos credores que a dívida continuará a ser paga.
Quanto à dívida social, dane-se. Pobre não pode tirar dinheiro nem do bolso, quanto mais do país.
4 - Portanto, como já foi dito neste espaço, qualquer futuro governo enfrentará um situação do tipo "catch 22", meio sem saída.
Se brigar com os mercados, o dinheiro some e a crise aumenta.
Se aceitar a ditadura dos mercados, corre o sério risco de desiludir profundamente a rua, já ressabiada, e desmoralizar-se (como aconteceu com Fernando de la Rúa, na Argentina, e Alejandro Toledo, no Peru, entre tantos outros).
5 - Não é o caso (ainda) de dar um tiro no coco, mas é, sim, o caso de perder as ilusões. Qualquer melhoria real na dor-país (não no risco-país) demora, depende de políticas que exigem uma ampla (e nova) coalizão interna e também de um apoio externo, que terá de ser penosa e lentamente construído.



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