São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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CAOS INTERMINÁVEL

Raras vezes assistiu-se a um pós-guerra tão mal planejado quanto o que se verifica no Iraque. A cúpula do governo de George W. Bush preferiu ignorar os conselhos de especialistas da própria administração para, a exemplo de fanáticos religiosos, acreditar apenas na versão que lhe convinha politicamente.
O resultado, que não pode ser classificado como surpreendente, é que o Iraque se enredou numa guerra civil da qual será difícil sair.
Para agravar o quadro, o capital político que os EUA chegaram a acumular diante de setores da sociedade iraquiana, por livrar o país de Saddam Hussein, vai se esvaindo rapidamente devido à inoperância dos esforços de reconstrução. Passados 16 meses da tomada de Bagdá, os habitantes da cidade continuam sem fornecimento regular de energia e água.
Essa situação de precariedade cria as condições para que mensagens inflamadas e idéias radicais ganhem adeptos, levando a um círculo vicioso em que as dificuldades mais prosaicas geram insegurança que acaba por tornar quase impossível a resolução dos problemas básicos. Cerca de metade da força de trabalho do Iraque está sem emprego.
Numa tentativa algo desesperada de mostrar-se forte e tentar imprimir um pouco de ordem ao caos, o premiê iraquiano, Iyad Allawi, restabeleceu a pena de morte e ordenou ao clérigo radical xiita Moqtada al Sadr que retirasse suas forças da cidade de Najaf. É evidente que a ameaça de execução não servirá de freio para terroristas suicidas, que continuam a se explodir diante de quartéis e delegacias. Tampouco Al Sadr parece disposto a acatar a determinação. Ontem mesmo o clérigo prometeu "resistir até a última gota de sangue".
Membros do governo provisório iraquiano dizem ter identificado um dedo iraniano por trás da rebelião em Najaf. Num roteiro conhecido -e bastante perigoso-, o ministro da Defesa iraquiano, Hazem Shalaan, já vem se referindo ao Irã como "primeiro inimigo".


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