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CLÓVIS ROSSI
O exílio está de volta
SÃO PAULO - Nada mais eloqüente (e assustador) sobre a perda de capacidade de reação da sociedade brasileira do que o silencioso retorno do
exílio às práticas da pátria.
É um caso, que se saiba, mas nem
por isso deveria deixar de causar furor, indignação, gritaria, revolta. Refiro-me à família da estudante que ficou 70 dias seqüestrada e, no momento seguinte à libertação, partiu
para o exílio em Miami.
Pelo pouco que se sabe do perfil do
pai, trata-se exatamente do tipo de
pessoa que sucessivos governos vêm
elogiando como modelo para a pátria. Tornou-se tão competitivo que
tem ramos de sua empresa em três
pontos externos, o que, de resto, facilitou sua ida para o exílio.
É, portanto, o clássico caso de brasileiro que globalizou-se com êxito. O
que ganhou do poder público em troca? O exílio.
Pior: o exílio começa sob a mais
completa indiferença da sociedade,
como se fosse normal que pessoas que
nada devem aos agentes da lei fujam
do país por temor à perseguição dos
fora-da-lei.
É bom não esquecer que, embora o
caso dessa família seja mais claramente identificável como de exílio,
há inúmeros outros, até mais trágicos: são os brasileiros que, perdida a
esperança de vida decente na pátria,
buscam entrar clandestinamente nos
Estados Unidos.
Para alguns deles, como esteve recentemente no noticiário desta Folha, a volta do exílio se dá dentro de
um caixão, justamente o destino de
que fugiu a família da estudante.
Em qualquer país minimamente
decente, as autoridades (ou ao menos
uma autoridade) se teriam mobilizado para: 1 - Prestar contas ao público;
2) Iniciar uma ação vigorosa e de
emergência que impeça novos exílios,
quaisquer que sejam os motivos.
No Brasil, faz-se o mais denso e assustador silêncio.
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